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“Não foi fácil chegar até aqui”, diz a cantora Any Gabrielly

A artista, de 17 anos, superou a pobreza e o preconceito para virar estrela do grupo pop Now United

Por Any Gabrielly
Atualizado em 24 ago 2020, 12h28 - Publicado em 21 ago 2020, 06h00

A música e a arte sempre estiveram presentes na minha vida. Sou muito novinha e sei que tenho diversas outras coisas para enfrentar. Ainda nem completei 18 anos e meu currículo é extenso. Com 10 anos, interpretei a jovem Nala na adaptação brasileira do musical O Rei Leão. Com 13, dublei a voz da princesa Moana, na animação da Disney. Hoje, faço parte do grupo pop global Now United, criado pelo produtor Simon Fuller, de American Idol e ex-­empresário das Spice Girls, e tenho fãs no mundo inteiro. Mas não foi fácil chegar até aqui. Quando eu tinha 6 anos, minha mãe perdeu a minha guarda devido a uma denúncia caluniosa. Não posso falar o motivo, pois o processo corre em sigilo. Fui morar com minha avó materna e uma tia. Para me reaver, minha mãe contratou advogados e gastou o dinheiro que não tinha. No período que convivi com minha tia, que é cantora de musicais, ela incentivou meu talento. Depois de seis meses, voltei a morar com minha mãe, mas ela já tinha perdido a casa onde vivíamos, e ainda estava grávida da minha irmãzinha. Fomos para um quartinho alugado e sem banheiro, onde ficamos por cerca de um ano e meio. Às vezes, até ratos passavam por lá. Mais ou menos nessa época fiz a audição para O Rei Leão. Havia só quatro vagas e 5 000 crianças disputando. Como faltava dinheiro, minha mãe me levava para os ensaios na garupa de uma moto bem velhinha. Às vezes, os vizinhos me davam carona. Eu saía da escola e ia direto para o teatro. Almoçava uma marmita no caminho. Conseguimos juntar dinheiro e nos mudamos para um lugar melhor. Eu também consegui estudar em escolas particulares, fazer cursos de inglês, dança e teatro, sempre com bolsas de estudo. Quando não dava, minha mãe fazia faxina nos colégios ou negociava descontos.

Nas escolas particulares onde estudei, eu era a única negra. Nunca tive vergonha, mas um garoto sempre me provocava. Um dia, ele começou a imitar macaco e jogou uma banana em mim. Todo mundo riu. Voltei para casa me sentindo um lixo. Minha mãe, que é branca, foi à escola. Os pais do aluno não sabiam que ela era minha mãe e ainda reclamaram de mim para ela. O colégio tentou botar panos quentes. Outro episódio ocorreu há dois anos, em uma padaria. Um homem se levantou e começou a gritar, dizendo que não poderíamos ficar ali e que nós éramos ratos. Foi muito, muito ruim. A gerência do lugar, em vez de botar o homem para fora, pediu que sentássemos em um cantinho “para evitar confusões”. Nunca mais voltei lá.

Felizmente, minha vida teve muitos momentos felizes também. Um deles foi quando fui aprovada para dar voz a Moana. Soube que estavam procurando crianças de 16 anos para dublar. Eu tinha 13, mas tentei mesmo assim. Três meses depois, minha mãe recebeu a ligação deles e me disse que eu era a mais nova princesa polinésia da Disney. Quando fiz 14, Yonta Taiwo, da equipe do Simon Fuller, convidou as alunas da minha escola de dança para fazer testes para um novo grupo. As meninas tinham de ter entre 16 e 19 anos. Tentei mesmo assim. Na audição, cantei a capela Valerie, de Amy Winehouse. Yonta começou a chorar e achei que tinha feito algo errado. Na verdade, ela estava emocionada. Mesmo abaixo da idade, fui chamada para a próxima audição, até que nos levaram a Los Angeles. Para a audição com Simon, tivemos somente quarenta minutos de preparação. Eu me senti num episódio do Idol. Hoje, faço parte do Now United, que tem quinze integrantes de quinze países. No mês passado, consegui comprar uma casinha para morar com minha mãe em São Paulo, com o dinheiro que ganhei. Após fazer turnês por 21 países, descobri que você vira uma pessoa melhor quando conhece gente de outras culturas. É bom sair da sua bolha.

Depoimento dado a Felipe Branco Cruz

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Publicado em VEJA de 26 de agosto de 2020, edição nº 2701

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