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Duda Beat: ‘A música me salvou na pandemia’

A VEJA, cantora símbolo da 'sofrência pop' fala sobre o novo disco, 'Te Amo Lá Fora', feito na quarentena, e do amor recíproco que finalmente a alcançou

Por Tamara Nassif 13 Maio 2021, 10h55

Foi no longínquo ano de 2019 que a chavinha de Eduarda Bittencourt virou: convidada para cantar com Ivete Sangalo em um trio elétrico de Recife, a artista pernambucana entendeu que a carreira estava com as asas prontas para alçar voo. Hoje, aos 33 anos, ela é conhecida por Duda Beat, nome artístico em homenagem ao movimento manguebeat, que combina reggae, pop, funk e música eletrônica a ritmos regionais, como o maracatu. Tal como ele, a mistureba colorida de gêneros lhe é patente: em seu álbum de estreia Sinto Muito (2018), Duda emprestou seu delicioso sotaque pernambucano a melodias da batizada “sofrência pop”, onde entoa desilusões amorosas com bom humor (quase sempre) e batidas enérgicas do funk ao samba. A predileção tomou corpo de vez no recém-lançado Te Amo Lá Fora (2021), que, atravessado pela pandemia, não só é mais desencantado que o anterior, como também faz combinações rítmicas mais ousadas. No hit Meu Pisêro, por exemplo, a cantora vai do fenômeno da pisadinha ao forró e pop em um piscar de olhos – e canta, doída: “Eu já sofri demais, já chorei/ Mas não me entreguei, não/ Me segurei contra esse amor/ Que acabou comigo de vez”.

Mas a tristeza não vem desacompanhada – e muito menos ela. A reviravolta da aceitação e do emocional mais maduro anda de mãos dadas com um relacionamento estável de mais de cinco anos, e, hoje, Duda Beat canta sobre desilusões que não vive mais. A VEJA, a artista fala sobre o processo de criação do disco, a unicidade de suas composições e as lições que tira do amor, do sofrido ao retribuído. Confira a entrevista abaixo.

Enquanto Te Amo Lá Fora reflete sua maturidade enquanto artista, ele também é mais sombrio que o Sinto Muito. A maturidade vem acompanhada desse olhar mais sóbrio, até desencantado, do amor? A palavra desencantado é uma que estava muito presente no momento de criar a identidade do álbum, que é de fato mais sombria. É uma maturidade que bate com o distanciamento temporal entre os meus desamores, até porque hoje vivo um amor super-correspondido. À medida que o tempo passa e esse distanciamento acontece, consigo entender o que aconteceu no meu passado com um olhar mais frio, menos visceral, mais maduro. E o lado sombrio vem desse movimento de encarar meus assombros, de retratar a angústia de amar e não ser correspondida, mas também é atravessado pelo momento que estamos vivendo. Eu fiz esse disco durante a pandemia e, apesar de não mencioná-la nas letras, fiquei muito melancólica. Em alguns momentos cheguei a pensar: “Será que tenho que lançar um disco agora, nesse contexto de tanta tristeza e tanto sofrimento? Será que o que eu tenho para falar é suficiente?”. E, ao mesmo tempo, tenho plena consciência de que esse álbum me salvou. Foi suficiente para mim, e a resposta dos fãs me indica que estão felizes por eu ter colocado essa cria no mundo.

E como foi esse processo de criação durante a quarentena? Eu fiz meu último show em João Pessoa, no 7 de março de 2020, e já estava programando uma viagem de vinte dias para uma casa alugada na serra. A ideia era fazer uma imersão, mergulhar nesse novo disco e começar a criar do zero. Escrevemos lá e voltamos, e foi aí que nos demos conta da situação. Não tinha ninguém na rua, todo mundo estava de máscara, e o isolamento atravancou o processo de produção, porque não podíamos nos encontrar. Mesmo com o disco pronto, foi um momento muito difícil para mim. Senti tristeza, luto, medo. Minha tristeza era tanta que foi difícil continuar ativa. Com ele lançado, eu só sinto felicidade pela recepção. Apesar de tudo que está acontecendo, eu comemoro, porque esse disco lindo foi feito com muito amor e a arte conseguiu nos atravessar, mesmo tão infelizes.

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Você é apelidada de ‘rainha da sofrência pop’. Por que a escolha de tratar de desilusões amorosas com mais leveza? Isso diz muito respeito a mim. Eu sempre fui a pessoa que ri de si mesma e tenta se divertir enquanto passa por situações difíceis. Sempre fiz piada de mim, falando “tô aqui toda bonitinha e o homem nem me olhou”. Apesar da tristeza existir, eu agregava a ela um bom humor. A gente não é triste o tempo inteiro, nem feliz o tempo inteiro. Existe essa dualidade na vida, então existe essa dualidade no disco.

Os ritmos no álbum transcendem o pop, indo desde a pisadinha ao pagode baiano e batidas mais eletrônicas. Essa diversidade de sonoridades veio com que propósito? Essa diversidade sou eu, tanto o que me compõe, quanto o que eu gosto de ouvir. Acho que sempre vai ter diversidade de ritmos nas minhas produções, porque tenho muitas referências. Cresci em Recife ouvindo todo tipo de música, e não à toa o Carnaval lá se chama Multicultura. Isso faz parte de quem somos enquanto recifenses: não só damos muito valor à cultura nacional, mas também estamos abertos ao novo. Eu cresci ouvindo frevo, maracatu, forró, pagode baiano, axé. E rock e grunge, por causa do meu pai. O Tomás, meu marido e produtor musical, também cresceu ouvindo samba, bossa nova e música popular brasileira. São ritmos nacionais de uma importância gigantesca. A nossa diversidade cultural é o que o Brasil tem de mais maravilhoso, ela atravessa gerações.

Assim como Marília Mendonça e até Adele, você cria músicas sofridas enquanto a vida amorosa caminha bem. Como é esse afastamento? Eu costumo dizer que foram uns quinze anos de sofrimento, mais ou menos, então tenho muita história para contar, e acesso essas memórias toda vez que sento para compor. É um processo até doloroso, confesso. A inspiração vem, e eu respeito muito o que vem até mim, mas acredito que agora eu já estou mais madura em relação a esses relacionamentos. É o que eu digo no final de Meu Pisêro: “Pra mim tá tudo perdoado/ Ninguém é obrigado a me amar assim”. E até o nome do álbum, Te Amo Lá Fora, fala desse distanciamento, de dar valor às pessoas que passaram na minha vida e agradecer o amadurecimento que elas me proporcionaram. Hoje, eu e Tomás temos uma relação de muita parceria, sabemos dividir amor e trabalho direitinho, ao mesmo tempo em que é tudo misturado. Às vezes eu estou com uma ideia massa na cabeça, vou lá no estúdio e falo “Mô, tive uma ideia”. Aí ele pega o violão, eu canto, nós gravamos e, de repente, temos um single. Com ele, tenho muita vontade de fazer um disco 99% amor romântico e 1% sofrência, mas porque não consigo desapegar dela.

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