Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Domingos Montagner, o galã tardio

Morte por afogamento no Rio São Francisco dá fim a uma carreira breve mas intensa na televisão. A Globo perdeu o melhor astro que teve em muitos anos

Por Marcelo Marthe Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Bruno Meier Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 16 set 2016, 21h56

Durante os testes de elenco da novela Cordel Encantado, no começo de 2011, o então desconhecido Domingos Montagner não precisou fazer muito esforço para ganhar um dos papéis principais da fantasia de cangaço nordestino que viraria um grande sucesso do horário das 6. “Quando ele entrou no estúdio, eu gritei: ‘Pronto, achei o Capitão Herculano’. Ele emanava doçura e virilidade, uma conjunção rara, principalmente num ator maduro”, diz a diretora Amora Mautner. Ela chamou o escolhido à sua sala no Projac, complexo de estúdios da Globo no Rio de Janeiro, para sacramentar a escolha. Montagner compareceu de bermuda, camiseta e chinelão. “Eu disse: ‘Domingos, sua vida vai mudar, você ganhará fama e moral na Globo. As pessoas vão ficar loucas por um galã como você’ ”, recorda-­se Amora. O ator não se abalou: “Imagina. Eu tenho filhos para criar e preciso tocar minha companhia teatral. Não quero ficar aqui por muito tempo, não”.

Montagner subestimou, evidentemente, a dimensão da guinada que o esperava: até ali conhecido apenas no circuito de teatro e artes circenses paulistano, ele viraria uma celebridade instantânea da TV aos 49 anos. Emplacou um desempenho marcante após outro, de Cordel e Joia Rara, também na faixa das 6, até chegar ao topo da pirâmide do prestígio nas novelas com o personagem Santo, de Velho Chico — seu primeiro protagonista de novela das 9. Mas a fatalidade fez cumprir-se, para consternação do público, o seu desígnio de não permanecer por muito tempo em cena. Na tarde da quinta-feira 15, o ator morreu, aos 54 anos, afogado no mesmo Rio São Francisco de que fala a trama de Benedito Ruy Barbosa. A tragédia ocorreu pouco mais de duas semanas antes do final da novela, em 30 de setembro.

O que tornou tudo mais chocante foi a sincronicidade entre os eventos da ficção e a realidade. Em capítulos recém-exibidos da novela, o agricultor Santo foi levado pela correnteza do Velho Chico após sofrer um atentado.Foi resgatado das águas por índios e ressuscitado num ritual mágico que culminou com um beijo de sua amada Maria Tereza, vivida pela atriz Camila Pitanga. No dia do acidente fatal, Montagner e a colega de elenco aproveitaram um intervalo de gravação no interior de Sergipe para um passeio pela cidade de Canindé do São Francisco, onde fica a Usina Hidrelétrica de Xingó. Os dois almoçaram e resolveram se banhar em uma prainha à beira do rio. Em seu relato à polícia local, a atriz disse que, ao perceber uma correnteza forte, se agarrou a uma pedra e tentou ajudar Montagner a fazer o mesmo. Chegou a segurar nas mãos dele por duas vezes, mas o ator foi arrastado por um redemoinho. Exausto e desesperado, afundou e voltou à tona duas vezes antes de desaparecer.

“Domingos foi dar um mergulho no rio para dar uma relaxada, como todos nós fazíamos”, afirma o colega Marcelo Serrado. No início da tarde da quinta-feira, durante uma gravação em que Serrado contracenava com Marcos Palmeira, um barqueiro da região passou na locação e deu um aviso à equipe comandada pelo diretor Luiz Fernando Carvalho: “O seu Domingos deu um mergulho e se machucou”. As gravações foram interrompidas por Carvalho quando informações truncadas, para usar as palavras de Serrado, começaram a surgir no set. Com o figurino de seus personagens, Serrado e Palmeira entraram na lancha de um barqueiro que, ao ver a região do acidente, prognosticou o pior: “Esquece. Esse lugar é terrível”. Serrado não perdeu as esperanças. “O cara é forte. Ele deve ter segurado num cipó”, avisou ao barqueiro. Com formação em educação física, Montagner era mesmo um exímio nadador.

Continua após a publicidade

Infelizmente, contudo, o barqueiro experiente nas manhas e meandros do São Francisco estava certo. Depois de quase cinco horas de buscas, o corpo de Montagner foi encontrado pelos bombeiros, preso a uma pedra, a 18 metros de profundidade. “Foi o lugar errado, na hora errada. O rio é muito traiçoeiro”, diz Serrado. “Poderia ter acontecido com qualquer um de nós. Eu mesmo já senti a correnteza. Mas parece que o rio queria o Domingos.”

Para ler a reportagem na íntegra, compre a edição desta semana de VEJA no iOS, Android ou nas bancas. E aproveite: todas as edições de VEJA Digital por 1 mês grátis no iba clube.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.