De Ivete a Zezé di Camargo, cantores órfãos de shows invadem streaming
Sem ganhos com apresentações ou DVDs ao vivo em razão da pandemia, artistas populares apostam em séries documentais como vitrine para se manter à tona
Desde o início da pandemia, em março do ano passado, começaram a pipocar no cardápio dos serviços de streaming séries documentais protagonizadas por cantores populares do país. Anitta e Marília Mendonça foram alguns deles. Nesta quinta-feira, 9, estreia É o Amor – Família Camargo, documentário com o cantor sertanejo Zezé Di Camargo e sua filha Wanessa que tem tudo para se tornar a mais ruidosa dessas atrações. O programa, que deveria acompanhar os bastidores da gravação do álbum Pai & Filha (que será lançado na sexta), se transformou em uma espécie de reality-show na linha do americano Keeping Up with the Kardashians, com direito a barracos, choro e até a participação da ex-mulher do cantor, Zilu Camargo.
Como as plataformas de streaming estão sempre procurando por conteúdos originais, atirando para todos os lados na hora de compor seus cardápios, é natural que abram espaço a produções com artistas tão populares – que são mais um chamariz, afinal, para atrair assinantes. Mas a verdade é que os mais interessados no negócio são os próprios cantores. E o motivo é simples. Com o longo jejum de shows ao vivo e proibições de aglomeração, os canais de streaming se transformaram na melhor e mais importante vitrine para seus trabalhos. Além disso, para muitos nomes de sucesso da música nacional os lançamentos mais lucrativos sempre foram os álbuns gravados em shows ao vivo.
Ou seja: esses artistas viram-se repentinamente sem suas principais fontes de renda e visibilidade. No começo da pandemia, essa carência até que foi suprida pela onda das lives na internet – mas esse recurso simplesmente cansou. O streaming surgiu então como uma tábua de salvação.
O caso da dupla Zezé Di Camargo & Luciano é exemplar. Antes da pandemia, os irmãos estavam fazendo uma das mais bem sucedidas turnês do ano, a Amigos, com Chitãozinho & Xororó e Leonardo. Com tempo livre, Luciano decidiu realizar um sonho antigo e gravar um disco gospel. Já Zezé se recolheu em sua fazenda e o clima bucólico do lugar o inspirou a gravar um disco com a filha e – por que não – registrar tudo em um documentário?
Ciente do interesse que as pessoas têm em sua vida pessoal, Zezé abriu bem mais que a porteira da fazenda. O resultado é uma série documental com cara de um coruscante reality show, com direito a participação da ex-mulher Zilú Godoi (a mãe de Wanessa, e com quem Zezé vivia às turras até pouco tempo atrás) e da atual esposa, Graciela Lacerda, que aparece fazendo tratamento para engravidar.
A cantora pop Anitta, como sempre, farejou e desbravou essa seara antes de todo mundo. Em 2018, ela lançou pela Netflix o documentário Vai Anitta, contando sua história. Em 2020, ela voltou ao serviço de streaming para lançar Made In Honório, que também fala de suas origens. A cantora Marília Mendonça, que morreu em novembro após um acidente aéreo, lançou no ano passado um documentário com os bastidores da turnê que fez em 2019, Todos os Cantos, disponível na Globoplay. Já a história do ritmo que a consagrou é contada no documentário Amor Sertanejo, da Netflix, que aborda desde as raízes até a explosão do sertanejo universitário nos anos 2000 e tem a participação de cantores como Luan Santana, Chitãozinho & Xororó, Naiara Azevedo, Fernando & Sorocaba, Michel Teló, Maiara & Maraísa e Matheus & Kauan.
No ano que vem, será a vez de Ivete Sangalo lançar sua própria série de TV. Intitulado Onda Boa com Ivete, a atração produzida pela HBO Max será dividida em cinco episódios que também contarão o processo criativo da cantora e de seus convidados, em bate-papos intimistas. Enquanto a vida normal não volta, haja cantoria popular no streaming.
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