Datas: Orlando Drummond, José Arthur Giannotti e Otelo Saraiva de Carvalho
O ator, o filósofo e o estrategista da Revolução dos Cravos
Para quem não identificava a voz ao seu dono, convém logo revelar o spoiler: a voz do Scooby-Doo e de tantos outros personagens que fizeram fama na televisão brasileira é do carioca Orlando Drummond. Se ainda assim é difícil reconhecê-lo, convém informar que Drummond era o ator por trás de um personagem muito popular, o Seu Peru, da Escolinha do Professor Raimundo. “Te dou o maiorrrrrr apoio”, dizia, esticando os erres. Namorador, logo avisava: “Use-me e abuse-me”. Sem falsa modéstia, resumia a graça de uma figura espalhafatosa: “Peru é cultura, cheio de ternura”. Depois de iniciar a carreira como contrarregra na rádio Tupi, nos anos 1940, ele começou a chamar a atenção pelo timbre único, ao mesmo tempo grave e doce. O ator Paulo Gracindo tratou então de empurrá-lo para a carreira artística. Rigoroso, obcecado pelo trabalho, Drummond era profissional de longos voos — o Scooby-Doo, por exemplo, foi dele durante 35 anos. Nasceu durante a gripe espanhola, em 1919, e morreu na pandemia do novo coronavírus, mas não de Covid-19. Atravessou gerações. Tinha 101 anos.
“A gente escreve livros”
Professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), o filósofo José Arthur Giannotti era um dos grandes nomes dos estudos de autores como Karl Marx, Martin Heidegger e Ludwig Wittgenstein no Brasil. Em 2020, já com 90 anos, lançou um volume sobre as ideias de Heidegger e Wittgenstein. “Acontece na nossa vida que a gente escreve livros”, disse em entrevista. “Uns são melhores, outros são piores que os outros. Acho que esse é um dos melhores. Porque provavelmente é o último e é a herança que deixo.” Um dos fundadores do PT, depois se aproximaria do PSDB do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, amigo de longa data, com quem dividiu os primeiros anos do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). Durante o governo de FHC foi membro da Comissão Nacional de Educação. Morreu em 27 de julho, aos 91 anos, em São Paulo, de causas não reveladas pela família.
O estrategista da Revolução dos Cravos
Em Portugal, nos dias que antecederam a Revolução dos Cravos, em 25 de abril de 1974, que pôs fim a quatro décadas de ditadura do chamado Estado Novo de António Salazar, um certo Óscar dava as cartas nos bastidores da conspiração militar. Era o codinome do tenente-coronel Otelo Saraiva de Carvalho, responsável por elaborar o plano de operações do Movimento das Forças Armadas (MFA), o grupo militar de esquerda que deflagrou a derrocada do regime. Saraiva de Carvalho, nascido em Maputo, a capital de Moçambique, viria a ser afastado depois de ter sido denunciado por ordens de prisão arbitrárias. Morreu em 25 de julho, aos 84 anos, em Lisboa, de causas não reveladas.
Publicado em VEJA de 4 de agosto de 2021, edição nº 2749