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Como a lei antiaborto pode impactar a indústria cinematográfica dos EUA

Medida que proíbe a realização de abortos a partir do momento em que o batimento cardíaco do feto pode ser detectado causou polêmica entre estúdios

Por Ana Carolina Avólio 31 Maio 2019, 19h50

Embora pareça distante do mundo do entretenimento, a alteração de uma lei no estado da Geórgia, Estados Unidos, pode ter impacto direto na indústria cinematográfica. Em 7 de maio, o governador Brian Kemp assinou uma medida que proíbe a realização de abortos a partir do momento em que o batimento cardíaco do feto pode ser detectado, o que acontece na sexta semana de gestação. A nova legislação, que entra em vigor a partir de 1º de janeiro de 2020, causou indignação entre a população e também entre o setor responsável por 92.000 empregos na região, segundo a Motion Picture Association of America: os estúdios de cinema e TV, incluindo as gigantes Disney e Netflix.

Desde 2008, a região tem sido uma das locações favoritas entre os estúdios devido a um incentivo oferecido pelo governo, que prevê crédito fiscal de 20% em produções com orçamento maior que 500.000 dólares, com possibilidade de aumento para 30% caso o logotipo do estado seja incluído nos créditos. 

A Netflix foi a primeira a se posicionar sobre o ocorrido. “Considerando que a legislação ainda não foi implementada (e a lei ainda pode ser revertida), nós continuaremos a filmar lá, mas vamos apoiar nossos parceiros e artistas que optem por não ir”, disse Ted Sarandos, diretor de conteúdo da empresa, na terça-feira 28. “Caso ela realmente entre em vigor, vamos repensar todo nosso investimento na Geórgia.”

Na quarta-feira 29, Bob Iger, presidente da The Walt Disney Company, revelou que a empresa pretende tomar o mesmo rumo da concorrente, considerando que será “muito difícil” filmar no estado uma vez que a lei passe a valer. “Eu acho que muitas pessoas que trabalham para nós não vão querer trabalhar (na Geórgia), e nós teremos que atender seus desejos a esse respeito. No momento, estamos observando a situação com cuidado.”

No mesmo dia, a WarnerMedia (conglomerado que inclui marcas como HBO e CNN) também garantiu que não fará mais produções no local sob a mesma condição das anteriores. “Nós observaremos a situação de perto e caso a lei seja validada, vamos reconsiderar a Geórgia como o lar de novas produções”, disse a empresa em comunicado. O grupo Comcast, responsável, entre outras marcas, pela Universal Studios, informou que vai reavaliar a sua atividade na região por considerar a medida “altamente restritiva”.

Vale lembrar que o estado da Geórgia já recebeu a produção de inúmeros sucessos, como Pantera Negra e Stranger Things. O fim das filmagens no local, que oferece um bom benefício fiscal para as produtoras, pode acarretar um aumento de custo das produções, com efeitos ainda a serem descobertos pela indústria e pelo público.

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