Como a Cannabis legalizada se tornou investimento preferencial de famosos
A mais recente adesão partiu de um apreciador de longa data, o cantor canadense Justin Bieber
Encarada de forma cada vez mais relaxada nos Estados Unidos, onde é permitido acender um cigarrinho em dezoito estados e na capital, Washington, assim como nos vizinhos México e Canadá, que descriminalizaram seu uso, a maconha está movimentando um vigoroso mercado no Hemisfério Norte. Atrai, portanto, startups e investidores de peso, dispostos a aplicar bilhões de dólares no novo negócio. Entre os emergentes da Cannabis destacam-se nomes famosíssimos — estrelas da música, do cinema e da TV interessadas em ganhar dinheiro e, ao mesmo tempo, associar sua imagem a um produto que, saído da ilegalidade, ganhou uma embalagem moderninha e cool. A mais recente adesão partiu de um apreciador de longa data, o cantor canadense Justin Bieber, que em outubro lançou uma edição limitada de cigarros prontos batizada com o nome de uma de suas músicas — Peaches (pêssegos). “As pessoas tentavam me fazer ter peso na consciência por gostar de maconha. Mas entendi que o consumo é benéfico para minha experiência humana”, filosofou o astro no lançamento de seu baseado de luxo.
Antes de Bieber, vários famosos já haviam dado seu tapinha no ramo da Cannabis. Em abril, a atriz Whoopi Goldberg anunciou na edição de estreia da revista Black Cannabis o patrocínio de uma linha de produtos que, além de cigarros, inclui doces e acessórios para o consumo. Trata-se de sua segunda incursão na área — no ano passado, por rixas com a sócia, ela se afastou de sua marca de artigos medicinais. Antes de Beyoncé revelar que está investindo parte de seus milhões em fazendas de cultivo de maconha, Jay Z, a outra metade do casal vip da indústria da música, já lucrava com sua marca premium, a Monogram, que oferece uma elegante embalagem negra contendo quatro cigarros ao preço de 50 dólares (270 reais), mesmo valor de um único e exclusivo charuto de maconha enrolado a mão. “Quero dar à Cannabis o respeito que ela merece”, proclama Jay Z. A atriz Bella Thorne, ex-estrela da Disney, é garota-propaganda e proprietária da Forbidden Flowers (Flores Proibidas), marca de baseado que desfruta em frequentes postagens para seus 25 milhões de seguidores no Instagram. Até Mike Tyson, o lendário boxeador aposentado, está construindo no sul da Califórnia um resort para apreciadores da erva — “um centro holístico destinado à saúde e ao bem-estar”. Tyson, que investe pesado em maconha há vários anos, planeja futuramente inaugurar na mesma região uma universidade de ensino do cultivo e usos de Cannabis. “Trata-se de uma das indústrias mais atraentes da atualidade. E ela está apenas no início de um grande ciclo de crescimento”, diz Michael Berger, sócio do fundo de investimentos Stonebridge Partners, voltado para o mesmo mercado.
Um dos nichos mais explorados no negócio da maconha são os produtos à base de canabidiol, substância retirada da Cannabis que não tem efeito entorpecente. A influenciadora Kourtney Kardashian usa o sobrenome graúdo para vender um creme antienvelhecimento confeccionado com “98% de ingredientes naturais”, sendo o CBD o principal deles — mesmo atrativo alardeando por Nicole Kidman e Gwyneth Paltrow para as linhas de cosméticos que levam seus nomes. A megaempresária Martha Stewart, reabilitada depois de uma temporada na cadeia, promete aliviar o stress dos cães com petiscos à base de canabidiol.
No caso dos artistas, o investimento em maconha costuma ser acompanhado de alguma ação em prol dos menos favorecidos. Bieber doará parte da receita da venda dos cigarros Peaches a instituições que utilizam Cannabis para tratar traumas de veteranos de guerra. Jay Z, por sua vez, injeta uma parcela dos lucros em empresas chefiadas por negros. “Há uma evolução na forma como a maconha é vista”, diz Linda Gilbert, da consultoria de marketing BDS. “Ela deixou de ser um produto para obter prazer imediato e se transformou em ferramenta da indústria do bem-estar.” De acordo com a consultoria internacional BDSA, só em 2020 as vendas globais de maconha legalizada alcançaram 21,3 bilhões de dólares, um salto de 50% na comparação com o ano anterior, e prevê-se que elas tripliquem até 2026, superando os 60 bilhões de dólares. Não espanta que famosos façam fila para entrar nessa nova roda de investimentos.
Publicado em VEJA de 27 de outubro de 2021, edição nº 2761