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Clássico ‘Mil e Uma Noites’ ganha tradução sem racismo ou machismo

Versão da autora franco-síria Yasmin Seale é a primeira no idioma feita por uma mulher e leva em conta obra recém descoberta para reformular histórias

Por Amanda Capuano Atualizado em 17 dez 2021, 16h54 - Publicado em 16 dez 2021, 12h50

O clássico árabe Mil e Uma Noites vêm sendo traduzido por séculos, resultando em versões bem diferentes  – em algumas delas, a saga nem sequer dura 1001 noites, apenas algumas centenas, tornando a tarefa de determinar o que resta de original na história um feito quase impossível. O consenso é que o livro, feito a partir da reunião de contos da cultura árabe, começa com a saga de Sherazade, que se casa com um rei que mata suas esposas logo na primeira noite, para evitar ser traído. Para salvar sua pele e colocar um ponto final no massacre, a jovem passa a contar histórias para o monarca, sempre deixando o final em aberto para que ele a mantenha viva para ouvir o final na noite seguinte. Agora, o livro ganhou uma versão atualizada para o inglês feita pela escritora e especialista em literatura árabe Yasmine Seale – a primeira no idioma feita por uma mulher.

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“É uma coleção solta de histórias sem um único autor, alterada e transmitida por editores e compiladores, tradutores e escribas, cada um dos quais a aprimorou, cortou e moldou ao longo dos séculos. Ninguém pode dizer o que é realmente as Mil e Uma Noites. O livro em si, escrito em árabe, seguiu o caminho de toda fala humana: foi sujeito a mudanças, censuras, esquecimentos e adaptações. O que quer que possa ter significado no Cairo do século XII, nunca foi uma coisa estável e nunca parou de mudar de forma”, explicou a autora franco-síria em um artigo à Sociedade dos Poetas do Reino Unido. Em entrevista ao The Guardian, o editor Paulo Lemos Horta explicou que a versão é uma reformulação da tradução de Richard Francis Burton, publicada originalmente em 1885, “despida do orientalismo, racismo e sexismo acrescentado e interpolado por ele nas histórias.” A expectativa, segundo ele, é que esta nova edição “finalmente tire Burton de seu pedestal.”

Conhecida em inglês como Arabian Nights, a história é uma coleção de contos folclóricos do Oriente Médio e da Índia que datam do século IX, conduzidas pela saga de Sherazade pela sobrevivência. A primeira tradução europeia é do francês Antoine Galland, do início do século XVIII, a primeira a incluir contos famosos como Aladdin e Ali Baba e os 40 Ladrões, tirados de um manuscrito por muito tempo de autoria desconhecida. “Ele mencionou em seu diário que um sírio teria lhe dado essas histórias que faltam no manuscrito árabe. Na ausência de mais notícias, Galland foi creditado como o autor e, por três séculos, acreditamos que os contos adicionados por ele refletiam sua estadia em Istambul,“ disse Horta à publicação inglesa. Recentemente, porém, a autora original foi identificada como Hanna Diyab, depois que seu livro de viagens contendo os contos foi encontrado na Biblioteca do Vaticano, em 1993, e traduzido para o inglês. “A nova edição veio em resposta a uma quebra no mistério da autoria desses contos. Esta descoberta exigia uma tradução moderna de todos os contos dados a Galland”, disse Horta.

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Ele conta que o melhor exemplo de como as personagens femininas são revisitadas na tradução de Seale é o conto de terror Sidi Numan, em que um marido, incapaz de entender por que sua esposa come apenas um grão de arroz no jantar, a segue à noite e a encontra de deliciando em um cadáver. Mais tarde, quando ele a confronta, ela o transforma em um cachorro, e ele se vinga fazendo dela uma égua. “Entendemos que a estranheza da esposa pode ser um produto de sua falha em interpretá-la. É mais fácil para ele acreditar que sua esposa é uma criatura sobrenatural do que se envolver com a parte dela que escapa de suas mãos”, explica. “A tradução de Seale rompe com essa supremacia masculina, finalmente se livrando do teor exótico deliberado das representações orientalistas enquanto recuperam a vitalidade e o deleite das histórias”, finaliza o editor.

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Capa de ‘1001 Noites’ de Yasmine Seale (WW Norton/Divulgação)

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