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Charlie Watts, baterista dos Rolling Stones, morre aos 80 anos

Na banda desde o final de 1963, o músico recentemente passou por uma cirurgia e anunciou que não participaria da nova turnê da banda, nos Estados Unidos

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 ago 2021, 15h37 - Publicado em 24 ago 2021, 13h49

O baterista Charlie Watts, dos Rolling Stones, morreu nesta terça-feira, 24, aos 80 anos, de causa ainda não revelada. Ele estava cercado pela família, em um hospital de Londres, na Inglaterra. A informação foi confirmada em nota pelo agente do artista, Bernard Doherty. “Charlie era um querido marido, pai e avô e, também como membro dos Rolling Stones, um dos maiores bateristas de sua geração. Pedimos gentilmente que a privacidade de sua família, membros da banda e amigos próximos seja respeitada neste momento difícil”, escreveu Doherty. Em 2004, Watts havia sido diagnosticado com câncer na garganta, mas se recuperou. No início deste mês, ele anunciou que desfalcaria os shows da turnê americana No Filter para se recuperar de uma cirurgia não revelada. Esta seria a única vez que ele não compareceria a um show da banda desde que entrou para os Stones, no final de 1963. “Pela primeira vez, meu compasso saiu um pouco errado”, brincou o músico em comunicado oficial.

Diferentemente de muitos ídolos do rock’n’roll, aí incluídos seus colegas de banda Keith Richards e Mick Jagger, Charlie Watts era o oposto do estereótipo do rockstar. Casado desde 1964 com Shirley Shepherd, ele sempre se manteve longe das festas e baladas que os amigos de banda frequentavam. Sua forma de tocar misturava a força do rock com a leveza e o improviso do jazz, ritmo que ele amava. Elegante, reservado, metódico e impassível, Watts era o porto seguro dos Rolling Stones. Em sua autobiografia, Keith Richards já o havia descrito como “a cama em que eu me deito musicalmente”.

Watts, enfim, personificava aquela letra dos Stones que diz: “It’s only rock n roll but I like it” (É apenas rock n roll mas eu gosto). “Todo mundo pensa que Mick e Keith são os Rolling Stones, mas se Charlie não estivesse fazendo o que faz na bateria, isso não seria verdade”, disse Richards em uma entrevista em 1979. Considerado um dos melhores bateristas de rock de todos os tempos, Watts se notabilizava pelo toque preciso na bateria em hits icônicos como Paint It Black, Gimme Shelter e Brown Sugar.

Watts nasceu em 2 de junho de 1941 em Londres. Fã de jazz, ele começou a colecionar LPs de Miles Davis, Dexter Gordon e Charlie Parker ainda na infância. A bateria entrou em sua vida por volta dos 14 anos. Antes de entrar nos Stones, Watts tocou em grupos de jazz até 1962, quando começou a dividir seu tempo como designer gráfico numa agência de publicidade. Watts entrou nos Stones poucos meses após a saída de Mick Avory, quando a banda tinha pouco mais de um ano de formação.

“Sempre quis ser um baterista”, declarou ele à revista Rolling Stone em 1996. Na mesma entrevista, ele comentou que, mesmo no palco de grandes arenas, sempre se imaginava tocando em um lugar intimista como os abafados clubes de jazz. “Sempre cultivei essa ilusão de estar tocando no Blue Note ou no Birdland, junto com Charlie Parker.”

Embora discreto e menos afeito as baladas que os colegas, ele não passou incólume pelas tentações da estrada. Nos anos 1980, enfrentou de maneira reservada o vício em álcool e drogas. Desde o início da carreira, uma característica marcante sua foi a modéstia. “Se eu tivesse liderado os Rolling Stones, eles não teriam chegado a lugar nenhum. Ainda estaríamos tentando encontrar um amplificador, trinta anos depois”, disse em entrevista à revista Rolling Stone, em 1991.

Mesmo com todo o sucesso que o grupo alcançou mundialmente, Watts nunca se afastou do jazz. Ele tinha o hábito de tocar em pequenos clubes, como convidado de bandas desconhecidas. Em 1986, formou a The Charlie Watts Orchestra, formada por 32 feras do jazz contemporâneo. Em 1991, criou o Charlie Watts Quintet e lançou um álbum em homenagem a Charlie Parker. Durante a pandemia, a despeito das dificuldades do isolamento, Watts fez graça ao surgir em abril de 2020 tocando uma bateria imaginária durante uma live. Watts segurava apenas um par de baquetas e um fone de ouvido, tamborilando no braço de um sofá como se fosse uma bateria de verdade. Na última quinta-feira, 19, a banda divulgou uma nova canção, Living in the Heart of Love, gravada nos anos 1980 e revelada só agora, em celebração aos 40 anos do álbum Tattoo You. Quando não estava tocando (rock ou jazz), ele se dedicava aos seus cavalos árabes, que criava em uma fazenda na Inglaterra. O músico deixa a esposa Shirley Ann Shepherd, a filha Seraphina e a neta Charlotte.

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