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Celulares e caos ambiental: onde Asimov acertou e errou ao prever futuro

Mestre da ficção científica, que teve sua série 'Fundação' adaptada no streaming, mostrou-se visionário - ou exagerado - ao especular sobre o amanhã real

Por Amanda Capuano 29 set 2021, 14h24

Se especular sobre o futuro é a razão de ser da ficção científica, o escritor russo-americano Isaac Asimov (1920-1992) conferiu novas camadas de complexidade à arte de vislumbrar o amanhã: sempre altamente conceituais, suas histórias imaginam os próximos passos da civilização sem esquecer as lições do passado. Na trilogia Fundação, uma das sagas mais conceituadas do gênero, que acaba de se ser vertida em série na Apple TV+, Isaac Asimov imagina um mundo no qual humanos dominam o espaço sideral e se congregam em um grande império fadado ao fracasso. Lançada em 1942, no calor da Guerra Fria, a série de livros conserva uma notável atualidade. Asimov, morto em 1992, chegou a ser indagado sobre o futuro real da humanidade em duas ocasiões: a primeira, em 1964, quando ele arriscou descrever o ano de 2014 em um artigo para o New York Times; já na segunda, em 1983, o jornal canadense Toronto Star pediu que o autor vislumbrasse a vida em 2019. Com base nela, VEJA avaliou o grau de acerto de algumas de suas previsões. Confira:

 

Domínio digital

“A crescente complexidade da sociedade tornará impossível a vida sem computadores, exceto cortejando o caos. As partes do mundo que ficarem para trás nesse aspecto sofrerão tanto que seus corpos governantes clamarão por informatização como agora clamam por armas. O efeito imediato da intensificação da informatização será, é claro, mudar completamente nossos hábitos de trabalho.”

Realidade: Basta imaginar um apagão tecnológico para entender o quanto Asimov estava certo em sua previsão. Hoje, a rotina diária de boa parte do mundo é regida por computadores, das atividades na internet à locomoção na própria cidade. Isso faz com que os nossos hábitos de trabalho passem longe da rotina que Asimov viveu em seu tempo, quando o telefone e encontros presenciais eram o fio condutor de tudo.

Mudanças no trabalho

“Os empregos que irão desaparecer tenderão a ser trabalhos rotineiros de escritório e linha de montagem, que são simples e repetitivos Os empregos que irão surgir, inevitavelmente, envolvem o designe, manufatura, manutenção e reparação de computadores e robôs, e a compreensão das novas indústrias que essas máquinas inteligentes tornarão possível. Em 2019, essa transição deve estar finalizada. “

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Realidade: De fato, há uma substituição de empregos por tecnologias em curso e, como previu Asimov, as novas funções estão ligadas à operação de máquinas como programação e desenvolvimento de algoritmos e sistemas automatizados. Em 2019 (e até agora, em 2021), porém, essa transição ainda não estava finalizada. Mas, de acordo com um relatório do Fórum Econômico Mundial, 85 milhões de empregos serão substituídos por máquinas com IA até o ano 2025, com o surgimento de outros 97 milhões de novos empregos. Há ainda alguns outros estudos que apontam 2030 como data em que esse processo estará a pleno vapor.

Comunicação

“Os aparelhos de 2014 não terão cabos elétricos, é claro, pois serão alimentados por baterias de longa duração. As comunicações se tornarão visuais e sonoras e você verá e ouvirá a pessoa para quem telefonar. A tela poderá ser usada não apenas para ver as pessoas para quem você liga, mas também para estudar documentos e fotografias e ler trechos de livros. Os satélites síncronos pairando no espaço possibilitarão a você discar diretamente para qualquer ponto da Terra, incluindo as estações meteorológicas na Antártica. ”

Realidade: As baterias do século XXI ainda deixam a desejar no quesito longa duração, mas a ideia de Asimov para a comunicação se mostra extremamente precisa. As chamadas de vídeo estão aí para ficar, e os smartphones não apenas permitem ler livros, estudar documentos e ver fotografias, como organizam a agenda de tarefas, servem de GPS e auxiliam em uma série de funções cotidianas. Satélites pairando na órbita terrestre também permitem a comunicação com lugares remotos.

Educação

“As escolas, sem dúvida, ainda existirão, mas um bom professor não poderá fazer nada além de inspirar a curiosidade que um aluno interessado pode satisfazer em casa no computador. Haverá, finalmente, uma oportunidade para cada jovem e, na verdade, para cada pessoa, aprender o que deseja aprender no seu tempo, no seu próprio ritmo, e da sua maneira.”

Realidade: Asimov previu que a educação seria transformada para sempre pela tecnologia, e que ela seria uma parte fundamental do ensino e da aprendizagem. Isso realmente acontece em locais mais desenvolvidos, com acesso à tecnologia. Mas, embora os computadores sejam ferramentas potentes de aprendizado, professores e aulas tradicionais ainda são dominantes no mundo.

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Meio-ambiente

“As consequências da irresponsabilidade humana em termos de lixo e poluição se tornarão mais aparentes e insuportáveis ​​com o tempo, as tentativas de lidar com isso se tornarão mais árduas. Haverá uma cooperação crescente entre as nações e entre os grupos dentro das nações, não por causa de um crescimento repentino de idealismo, mas por causa de uma compreensão a sangue-frio de que qualquer coisa menos do que isso significará destruição para todos”

Realidade: A visão de Asimov sobre o futuro do planeta é, infelizmente, a mais certeira de suas ideias. Desde que o autor ousou imaginar o futuro, o aquecimento global se tornou uma realidade iminente, a emissão de CO2 na atmosfera escalou e o aumento da temperatura atingiu níveis alarmantes, obrigando as nações a se unirem em pactos climáticos como o Acordo de Paris para garantir que mudanças sejam feitas a tempo de evitar um colapso global.

Conquista do Espaço

“Entraremos no espaço para ficar. Com o foguete como veículo, construiremos uma estação espacial e lançaremos as bases para tornar o espaço um lar permanente para um número cada vez maior de seres humanos. Em 2019, estaremos de volta à lua; e não apenas para coletar rochas, mas para estabelecer uma estação de mineração que processará o solo lunar e o levará a lugares no espaço onde possa ser fundido em metais, cerâmica, vidro e concreto – materiais de construção para as grandes estruturas que serão colocadas em órbita ao redor da Terra.

Realidade: Nessa aí, Asimov viajou na maionese: as previsões do autor sobre o espaço têm pouco de realidade. É fato que lançamos sondas até para Marte, mas estamos longe de construir comunidades espaciais, e o ser humano não voltou para a Lua nem sequer para visitar, que dirá para usá-la como fonte de matéria-prima de projetos megalomaníacos – um deles, que o autor acreditava ser possível em 2019, seria o protótipo de uma estação de energia solar na órbita terrestre capaz de fornecer energia para todo o mundo.

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