O Rio de Janeiro, sua terra natal, costuma virar notícia por causa da violência. Por que decidiu retratar a cidade com olhar humanizado em produções como a série How To Be a Carioca, do Star+, em que estrangeiros conhecem o “jeitinho carioca de ser”? Eu quis explorar essas facetas boas do Rio para não ficar no que todo mundo já explora, no que a mídia às vezes transmite ou o que as pessoas às vezes passam por experiência própria. Não é sobre virar os olhos para a realidade que tem lá, porque é uma cidade violenta. Mas é também uma cidade que tem muito mais a oferecer. Eu prezo as belezas, o carioca, tudo que o Rio tem de bom. É um lugar que vive sempre nesse conflito entre a beleza e o caos, mas faz parte da nossa cultura.
Olhando as suas produções, é nítido que o senhor gosta de produzir histórias sobre o Brasil. Considera-se um intérprete do país para os estrangeiro? Não tenho como fugir da minha brasilidade, isso vem de dentro de mim. Meu sucesso nos Estados Unidos foi, em parte, também por eu não ter renegado essa essência brasileira e tê-la usado como ferramenta. Meu jeito de ser, de lidar com as pessoas, os amigos e contatos que fiz, as portas que consegui abrir — tudo isso é minha forma de devolver um pouco para o Brasil.
Atualmente o senhor mora nos Estados Unidos. Como é ver o Brasil pelo olhar de fora? Eu acho o que o Brasil é muito pouco explorado. Quero mostrar um Brasil diferente do que as pessoas estão acostumadas a ver, que é um Brasil plural. Claro que temos vários filmes e projetos que falam sobre o país, mas meu objetivo é tentar mostrar um pouquinho da minha felicidade e do orgulho de ser quem eu sou também.
O senhor construiu uma carreira sólida em Hollywood com as franquias animadas A Era do Gelo e Rio. Em que medida essas experiências feitas lá fora se refletiram em How To Be a Carioca? Apesar de ser carioca, eu trago um pouco da linguagem estrangeira de como contar histórias, usando repertório do que vi ao viajar pelo mundo e fazendo uma série com narrativas que possam funcionar em qualquer lugar do mundo. Qualquer um que assista vai entender a história.
Depois do sucesso de Rio e Rio 2, podemos esperar uma terceira parte da história das araras-azuis? Há grandes chances de ter, estou trabalhando em um projeto para fazer acontecer. Agora que a produtora original, a Fox, pertence à Disney, quem sabe. Estamos com esperança de que saia do papel.
Publicado em VEJA de 27 de outubro de 2023, edição nº 2865