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Caio Castro em… os marrentos também amam

Ator diz que chora ao ler as cenas do Grego de ‘I Love Paraisópolis’, bandido sensível que amoleceu o coração do público

Por Patrícia Villalba
12 jul 2015, 08h18

Os olhos de Caio Castro brilham quando ele conta como anda sendo cercado pelos pequenos fãs do Grego de I Love Paraisópolis. “Os garotinhos agarram na minha perna e dizem ‘e aí, mano, respeita a minha história'”, conta ele ao site de VEJA, marcando bem o sotaque paulistano, durante uma visita à cidade cenográfica que reproduz Paraisópolis num dos cantos mais distantes do Projac. O personagem criado pelos autores Alcides Nogueira e Mário Teixeira garante boa parte do sucesso da novela das 7 da Globo, que mantém Ibope de fazer inveja à trama das 9, Babilônia. Seria apenas um novo caso de um vilão que parece mais sedutor que o mocinho, não fosse Grego mais do que um mau caráter. Ele é o temido chefão da favela, o que, na prática, significa ser bandido. “Na real, ele é um coitado”, resume Caio, um tanto mexido com a história miserável deste novo Robin Hood. “A referência dele do certo e do errado não é a mesma que a nossa. Fico com o coração apertado lendo o texto, dá até vontade de chorar.”

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Numa comédia romântica que explora as diferenças entre os moradores de Paraisópolis e do elegante bairro do Morumbi, a esperança dá o tom. A vida dura, o abandono da infância, a dificuldade de conseguir estudar e trabalhar são obstáculos a enfrentar com coragem, não com muito drama. “Bota a cara no sol!”, costumam repetir os personagens. É por isso que, mesmo bandido, Grego não é apresentado como um sujeito “mau, muito mau” e tem lá as suas cruzes para carregar – órfão, foi criado solto pela tia e, como se costuma dizer, “se juntou com quem não presta”. “Acho que as pessoas se identificam com o Grego pela combinação de força e doçura. O Caio conseguiu dar isso ao personagem e está num grande momento”, elogia a colega de cena Carol Abras, que interpreta a Ximena, braço-direito do bad boy. “Ele usa a força e o respeito como forma de defesa, mas ele é um bichinho que tem uma ferida muito grande”, diz Caio.

É uma trama dinâmica e bastante juvenil. Além de parceira, Ximena ama Grego, que ama a amiga de infância Mari (Bruna Marquezine). Mari, a heroína da novela, é apaixonada por Benjamin (Maurício Destri), arquiteto bem intencionado e mauricinho. O protagonista é simpático e correto, mas é claro que o marrento Grego tem uma torcida enorme nas redes sociais, onde quase ninguém liga para o fato de que ele é um bandido. E não é mesmo para ligar. “Por ser uma novela das 7, uma história leve, não quisemos transformá-lo num traficante, por exemplo”, explica o diretor de núcleo Wolf Maya. “Nossa referência foi Grease, que tinha aquele bando do John Travolta, um bandido romântico. Por isso, o negócio do Grego é o desmanche de carros, um componente bem masculino e jovem.”

De acordo com os autores, os personagens foram criados com dois lados, preparados para momentos de deslize e emoção. “Eles se mantêm em seus papeis de vilões e mocinhos, mas não deixam de ter essa diversidade de emoções que é comum ao ser humano. Com o Grego não é diferente: ele tem uma religiosidade, é fiel em seu amor por Marizete e respeita aqueles que ama. Porém, vive sob sua lei e sabe que precisa se manter numa posição de poder”, explica Mário Teixeira. “A história é uma comédia de costumes, leve e arejada, mas não evitamos tratar de temas importantes. O povo, mesmo com os pés no chão, quer sonhar.”

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Descoberto num concurso de atores do Caldeirão do Huck em 2006, Caio ficou três temporadas em Malhação. Em 2010, fez sucesso como o romântico Edgar, par de Ísis Valverde em Ti-Ti-Ti, e emendou tipos parecidos em Fina Estampa (2011) e Amor à Vida (2013) – dois médicos, Antenor e Michel, que mesmo sem grande novidade, não passaram despercebidos. Com fama de indócil entre os repórteres que pretendem saber de sua vida pessoal e sem medo de polemizar, ele chama atenção na contra-corrente. Em 2013, por exemplo, causou furor quando declarou a Marília Gabriela no GNT que não gosta de teatro e lê por obrigação. Foi duramente criticado por colegas mais velhos, mas apaixonadamente defendido pelos que viram autenticidade na declaração – afinal, quantos não citam Tchecov por pura pose?

Discussões intelectuais à parte, Caio saiu fortalecido e é hoje um dos nomes mais carismáticos da nova geração da Globo. Consciente que vive um ótimo momento, fez da composição de Grego uma busca pessoal, antes que ficasse marcado pelo estilo descamisado. “Foi um trabalho de observação, mas eu não fui a Paraisópolis. Os moradores de lá já estavam recebendo a produção, e eu não queria anfitriões, queria chegar e observar”, detalha o ator, que visitou “outras favelas” de São Paulo e dispensou as aulas do preparador Chico Accioly, que ajudou o elenco da novela a compor os personagens. “Fiquei com o coração na mão, mas pedi dispensa com todo o respeito. Quis fazer um trabalho de autor”, conta ele. “Liguei para alguns amigos, e fui para outras quebradas. Fiquei reparando nos mínimos detalhes das pessoas, achando algumas inspirações. Botei tudo para dentro e passei um tempo filtrando. Estou sempre conectado com meus amigos de lá, que me mandam frases e gírias novas, por exemplo. Não estamos nem na metade da novela, tem muita coisa para acontecer ainda.”

Grego tem em vista um envolvimento com Soraya (Letícia Spiller), a mãe perua de Benjamin que andou tentando envenená-lo há alguns capítulos. O vilão com jeito de herói vai protagonizar algumas batalhas pela posse do seu território na favela, que precisa defender dos bandidos rivais e da especulação imobiliária. Ao mesmo tempo, seguirá sendo desestabilizado pelo amor obsessivo que sente por Marizete. Os que torcem pelos dois – ou os “shipam”, como se diz nas redes sociais, dando à dupla apelidos como “Grezete”, composto pelo nome dos dois – podem ter esperança, uma vez que a redenção do delinquente juvenil é um caminho natural. Caio, entretanto, prefere emoções fortes. “Ele podia morrer… Ninguém nunca morre!”, sugere.

O ator entende os mecanismos do folhetim, mas analisa o personagem como um cara real, sem grandes ilusões. “Ninguém muda por ninguém. É óbvio que a Marizete – por ser mais do que um amor, uma pira dele – pode ser um instrumento para que ele se enxergue e bote as coisas numa balança interna. Mas ele não vai mudar por ela. Ele tem que se entender primeiro. Não existe mudança pelo outro, a não ser temporária”, opina o ator, imerso num clima de “existe amor em SP”.

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Dessa forma, dosando bem os clichês e as tiradas originais, Caio surfa na fama do vilão que ele imaginou humano e incomum. “Quando eu recebi a sinopse, antes de aceitar, quis saber o que pensavam para o personagem. É fácil cair no caricato com um vilão, que já vem com a carga de mau caráter. E eu não queria fazer um cara que simplesmente falasse de um jeito engraçado”, conta ele. “Tudo o que eu vi de filmes e séries foi para não fazer igual. Não queria fazer um cara pitoresco, mas alguém que tivesse na essência, no olho, essa crueldade entre aspas”, detalha. E quais seriam esses vilões, digamos, inspiradores às avessas? “Teve muita coisa. Mas… Não trabalhamos com nomes, né?”

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