Bienal do Livro se adapta ao virtual e prevê edições híbridas no futuro
Vitor Tavares, presidente da Câmara Brasileira do Livro, analisa experiência de verter o tradicional evento do mercado editorial para o on-line
Em muito distante do pavilhão do Expo Center Norte, a tradicional Bienal do Livro de São Paulo tomou curso semana passada, entre os dias 7 e 13 de dezembro, em versão inteiramente virtual. Idealizado sob o lema “conectando pessoas e livros”, o maior evento literário da América Latina liberou acesso gratuito e sem cadastro a qualquer visitante da plataforma – uma jogada que expandiu as fronteiras para além da capital paulista pela primeira vez na história.
“O ambiente virtual permitiu maior inclusão e democratização de acesso aos debates e conteúdos produzidos nas Bienais, que antes eram muito mais acessíveis ao público paulista”, disse Vitor Tavares, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), em entrevista a VEJA. “Foi uma Bienal sem fronteiras, sem espaço geográfico, em que até pessoas de outros continentes puderam interagir com as palestras.”
O ganho de público já era mensurável na quinta-feira, 10, quando um painel sobre o centenário de Clarice Lispector com a escritora Nélida Piñon arrebanhou cerca de 1.800 pessoas ao mesmo tempo – um feito dificílimo de ser reproduzido no formato presencial, já que os espaços comportam, no máximo, 400 convivas, de acordo com Tavares. Neste ano, o evento reuniu um público recorde de 1,3 milhão de visitantes, número que pode crescer até o dia 13 de fevereiro, quando os conteúdos deixarão a plataforma criada exclusivamente para a Bienal Virtual e irão para as redes da CBL.
“A experiência virtual tem sido tão exitosa que com certeza iremos fazer um hibridismo entre virtual e presencial para as próximas bienais paulistas, a começar em julho de 2022”, diz. “Acredito que, sendo híbrida, a Bienal vai ser até muito mais atraente ao público leitor brasileiro, que poderá experienciar o melhor dos dois mundos.” A virtualização em si foi um desafio para a CBL, que, relutante em cancelar a edição de 2020, assumiu a tarefa de reconstruir digitalmente os tradicionais espaços de debates, como o Salão de Ideias e Papo de Mercado, em 90 dias. Para que o evento saísse do papel e assegurasse suas 220 horas de programação online, foi necessário 1,5 milhão de reais de investimento, reunido por apoio financeiro de patrocinadores, apoiadores e editoras.
Tamanha digitalidade pode ter roubado o gostinho de desfrutar a companhia presencial de autores célebres e outras grandes personalidades do mercado editorial, além da experiência de comprar livros no embalo dos painéis. “O livro físico carrega um lado até lúdico, do leitor pegar, folhear e até quem sabe conseguir um autógrafo do autor na própria Bienal”, diz Tavares. Ainda assim, os acessos aos e-commerces das editoras dispararam, em especial enquanto as lives transcorriam e discutiam obras representadas nos estandes virtuais. O lema “conectando pessoas e livros” foi cumprido, afinal, graças às maravilhas da tecnologia – seguramente a melhor amiga do homem em 2020.