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Beija-Flor desvenda ‘Cristo Mendigo’ de Joãosinho Trinta

Em 2012, azul-e-branca de Nilópolis se inspira no passado para recuperar identidade perdida nos últimos carnavais. Alegoria de 1989 será reeditada

Por Rafael Lemos
5 fev 2012, 17h25

Luxo, monstros e polêmica. Em 2012, a Beija-Flor de Nilópolis vai apostar em três elementos que ajudaram a escrever a história da escola ao longo dos carnavais. É mais uma tentativa de reencontrar sua identidade, uma busca que já dura pelo menos seis anos. Nesse período, a agremiação conquistou três títulos (2007, 2008 e 2011), mas ao optar por enredos e estéticas menos originais, perdeu o brilho que a levou ao primeiro time do samba. Na contramão da onda de inovações, a Beija-Flor decidiu olhar para o próprio passado.

Para a azul-e-branca, pouco importa se é ouro ou lata, o que interessa é reluzir e esbanjar muito luxo pela Marquês de Sapucaí. E será justamente essa a linha da abertura do desfile da Beija-Flor, cujo enredo é São Luís – O poema encantado do Maranhão. Estarão representados os franceses, que fundaram capital maranhense em 1612; os holandeses, que invadiram a cidade; e os portugueses, que enfim a colonizaram.

“O carnaval é fantasia. Vamos mostrar a cidade de São Luís do jeito que os invasores e colonizadores imaginavam. Ou seja, com muitas riquezas e ouro”, explica o carnavalesco Fran Sérgio, integrante da comissão de carnaval. “Teremos uma Beija-Flor rica e pomposa”, avisa.

Beija-Flor terá um setor só de escravos
Beija-Flor terá um setor só de escravos (VEJA)

O segundo setor mostrará a vinda dos escravos, com direito a navio negreiro como carro alegórico. A maioria dos escravos que desembarcava em São Luís era oriunda de Daomé, atual República do Benin. “Entre os negros que vieram de lá, havia muitos reis, rainhas e nobres. Era uma região de disputas de terras. Quem vencia entregava os derrotados para os europeus”, explica Fran Sérgio.

O desfile ainda reserva espaço para a religiosidade, as festas folclóricas, danças típicas e lendas. As artes ocuparão lugar de destaque, num setor dedicado à poesia, literatura e música. Vários artistas que nasceram em São Luís já confirmaram presença no desfile: Alcione, Ferreira Gullar, Rita Ribeiro e Zeca Baleiro.

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No entanto, o grande homenageado será mesmo o carnavalesco Joãosinho Trinta. Até sua morte, em dezembro, estava decidido que o carnavalesco desfilaria sentado em um trono. Agora, o assento virá vazio, numa reverência a João. Em seu lugar, estarão apenas o cetro, a coroa e a roupa que ele usaria no dia do desfile.

Luxo – Foi pelas mãos de Joãosinho Trinta que o luxo chegou à Beija-Flor, na década de 1970. Com enredos alusivos à realeza, o carnavalesco sagrou-se o único campeão cinco vezes consecutivas do carnaval carioca e transformou para sempre os desfiles das escolas de samba. Os dois primeiros títulos foram ainda no Salgueiro: O rei de França na ilha da assombração, em 1974, e O segredo das minas do rei Salomão, em 1975. Na Beija-Flor, vieram os outros três campeonatos: Sonhar com rei dá leão, em 1976; Vovó e o rei da Saturnália na corte egipciana, em 1977; e A criação do mundo na tradição nagô, em 1978.

O 'Cristo torturado' da Beija-Flor, em 2005
O ‘Cristo torturado’ da Beija-Flor, em 2005 (VEJA)

Polêmica – O reinado de Joãosinho Trinta na Beija-Flor durou exatos 17 carnavais, de 1976 a 1992. Nesse período, ele foi responsável pela maior polêmica da história da folia, quando decidiu levar o carro do Cristo Mendigo para a Avenida. Após uma celeuma jurídica com a Igreja Católica, o carnavalesco decidiu desfilar com a alegoria coberta e uma faixa com a frase “Mesmo proibido, olhai por nós!”.

Esse ano, a alegoria estará de volta numa homenagem a Joãosinho, que faleceu no último mês de dezembro. Dessa vez, no entanto, a escola promete rasgar o plástico que esconde o Cristo, realizando assim o desejo do carnavalesco. “Vamos realizar algumas coisas que queríamos ter feito naquele ano e não pudemos. Mas é surpresa”, desconversa Laíla.

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Joãosinho saiu da Beija-Flor, mas deixou as polêmicas gravadas no DNA da escola. Em 2005, a Igreja Católica voltou a protestar quando a agremiação quis encenar um açoitamento de Cristo em pleno Sambódromo. O enredo falava sobre as missões jesuítas no Rio Grande do Sul. No fim das contas, a Beija-Flor desfilou com um Cristo ensanguentado, sendo consolado por Maria Madalena, mas sem ser açoitado. Também dividiu com terços, santos e outras imagens católicas, como uma imagem de São Miguel, o enredo que contou o choque entre a Igreja e índios durante as missões de “civilização”.

Os monstros estão de volta ao desfile da Beija-Flor
Os monstros estão de volta ao desfile da Beija-Flor (VEJA)

Monstros – A partir de 1998, iniciou-se um novo ciclo na Beija-Flor, com a criação de uma comissão de carnaval formada por jovens carnavalescos, sob a regência do experiente Laíla – braço-direito de Joãosinho. Entre os pupilos de Laíla, o então desconhecido Cid Carvalho acabou sendo apontado como o responsável pela nova estética da agremiação, com ênfase no grotesco.

A partir daí, a Beija-Flor ficou conhecida por levar todo tipo de monstros para a Avenida. Também passou a ser comum ver em seus desfiles as cores preta e roxa, consideradas sombrias e pouco carnavalescas. Coincidência ou não, com a saída de Cid Carvalho, os monstros perderam espaço na escola de Nilópolis.

Agora, as criaturas estão de volta, num setor praticamente inteiro só para elas. A brecha para ressuscitar os monstros é a parte do desfile que falará sobre as lendas de São Luís, com a carruagem de Ana Jansen, a serpente de São Luís e o fantasma Manguda.

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