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Quem é Bad Bunny, rapper latino de gênero fluido no topo do Spotify global

Cantor porto-riquenho foi o mais ouvido na plataforma pelo segundo ano seguido, com mistura de rap, reggaeton e ativismo social

Por Amanda Capuano Atualizado em 17 dez 2021, 11h10 - Publicado em 17 dez 2021, 11h10

No último final de semana, 40 000 fãs alvoraçados se reuniram no estádio Hiram Bithorn, na capital porto-riquenha San Juan, à espera de Bad Bunny. Maior fenômeno musical recente do país, o cantor subiria ao palco às 20h30 do horário local, mas só apareceu às 23h35, depois que todos que aguardavam na fila quilométrica entraram na arena. O atraso não diminuiu o ânimo da multidão, que acompanhou o “Badchella”, apelido dado em referência ao festival americano, com um entusiasmo reservado aos nomes mais badalados da música. “Este não é apenas o maior evento que Porto Rico verá, mas também o maior que muitas pessoas no mundo verão”, disse em coletiva o produtor Noah Assad sobre o evento de 10 milhões de dólares. Tamanho fenômeno não é restrito a Porto Rico: em 2021, o cantor foi o mais ouvido no Spotify, com 9,1 bilhões de reproduções, repetindo o feito de 2020, quando se tornou o primeiro artista de língua não-inglesa a liderar a parada global. Até 2016, porém, Bad Bunny era somente Benito Antonio Martínez Ocasio, um empacotador de compras em um supermercado da cidadezinha de Vega Baja, em Porto Rico. 

Filho de um caminhoneiro e de uma professora de inglês, Benito cresceu mergulhado na música latina, e costumava acompanhar a mãe pela casa balbuciando sucessos da salsa, merengue e baladas locais. Foi o trap, no entanto, um subgênero do rap, que abriu as portas para o sucesso quando, como muitos de sua geração, ele despontou na Internet. Então com 19 anos de idade, o garoto lançou-se na plataforma Soundcloud em 2013, com seus versos em um espanhol típico da região. O sucesso na rede chamou a atenção do DJ Luian, que, em 2016, o contratou para sua gravadora independente e apresentou Benito ao produtor Mambo Kingz. Daí para a frente, a ascensão foi irresistível. Seu primeiro single, Soy Peor, alcançou a posição 22 na parada latina, introduzindo seu nome ao mundo. Logo em seguida, emendou colaborações com Cardi B (I Like It) e Drake (Mia), que emplacaram em primeiro e terceiro lugar na Billboard Hot 100, respectivamente – um passaporte carimbado para o mercado americano. O sucesso em terras anglófonas não fez Benito abandonar o idioma nativo. “Ninguém pede aos gringos que mudem. Isso é quem eu sou. Essa é a minha música. Essa é a minha cultura,” disse o porto-riquenho ao The Daily Show

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Bad Bunny durante “Badchella”, em Porto Rico (Bad Bunny/Instagram)
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Vista aérea do estádio lotado durante show (Bad Bunny/Instagram)

Nas letras que abusam da sedução, o cantor coloca também um pé na ostentação e não tem pudores na hora de escrever, indo do romance a versos de sexo explícito. No caldeirão da sonoridade, mistura o trap inicial ao popular reggaeton, caindo de cabeça em um pop latino que conquistou o mundo. Seu álbum de estreia, X 100pre, levou a estatueta de melhor álbum urbano no Grammy, enquanto o mais recente deles, El Último Tour Del Mundo, se tornou o primeiro disco 100% em espanhol a encabeçar a parada de álbuns da Billboard.  O negócio deu tão certo que até Ricky Martin, ídolo porto-riquenho, passou a reverenciar Bad Bunny, e declarou o compatriota como “gênio da criatividade.”

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Os dois, aliás, marcharam juntos durante os protestos contra o governador Ricardo Rosselló, deposto por corrupção e flagrado em áudios debochando de vítimas do furacão Maria, que atingiu o país em 2017. Quando o movimento estourou, Bunny estava em turnê pela Europa, mas suspendeu os shows para se juntar à marcha. No mesmo ano, lançou com o rapper Residente a canção de protesto Afilando Los Cuchillos, que alcançou 2,5 milhões de visualizações no YouTube no dia do lançamento. “Suas desculpas se afogam com a água da chuva nas casas que ainda não tem teto”, canta em um verso. “Com tudo que os políticos roubaram, pintaríamos as paredes do caribe inteiro”, entoa em outro momento. 

Com um visual arrojado que mistura influências de skate à cultura tropical, o cantor quebra o estereótipo de masculinidade que costuma cercar artistas latinos, e chegou a ser descrito como “um ícone da comunidade queer” por Ricky Martin. Não raro, aparece de unhas pintadas ou usando saias, e é um defensor ativo dos direitos LGBTQIA+. Embora se defina como hétero, tem uma visão fluida da sexualidade. “Não sei se em 20 anos vou gostar de um homem. Ninguém nunca sabe. No momento sou heterossexual, gosto de mulheres”, declarou ao LA Times.

Isso, porém, não faz com que ele se isente das discussões. Em 2016, criticou o também porto-riquenho Don Omar por comentários homofóbicos nas redes sociais. Mais recentemente, em 2020, protestou contra o assassinato de uma mulher trans porto-riquenha durante uma apresentação no The Tonight Show. Usando saias e uma camiseta com os dizeres: “Eles mataram Alexa, não um homem de saias”, ele criticou o noticiário local pela forma como a vítima foi tratada. No mesmo ano, lançou o vídeo de Yo Perreo Sola, uma canção provocativa contra o esteriótipo de machão em que encarna uma drag queen para entoar versos como: “Que nenhum otário se aproxime/ A boate pega fogo quando ela chega/ Ela tem os homens como diversão/ Uma malcriada, tipo a Nairóbi”. Ao final do vídeo, deixa mensagem: “Se ela não quer dançar contigo, respeite/ Ela dança sozinha.”

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Agora, o nome Benito fica restrito aos mais íntimos. Nas paradas de sucesso, quem domina é Bad Bunny, alcunha tirada de uma foto de infância. Quando era menino, foi obrigado a se vestir de coelho para um evento na escola, e saiu no retrato de cara amarrada. “Quando vi a foto, pensei que deveria me chamar de ‘Coelhinho Mau’”, declarou. “Coelho é algo tão comum então pensei comigo que toda vez que alguém ver um, vai se lembrar da minha música.” A julgar pelos números, ele acertou em cheio.

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Bad Bunny em protesto contra assassinato de jovem trans (The Tonight Show/Reprodução)

 

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