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Axé in Rio

Os destaques do Carnaval baiano já se preparam para tocar no Rock in Rio – e enfrentar a oposição de raivosos fãs de rock. Entenda por que é besteira criticar a presença de axé no festival, que é feito, afinal, para a diversão

Por Adriana Caitano
11 mar 2011, 23h39

A hegemonia é do axé, mas Salvador não tem corpo fechado. A cidade acolhe ritmos diversos, como se viu neste Carnaval na parceria entre Margareth Menezes e Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, ou na apresentação do DJ de música eletrônica americano Will.I.Am. O público aplaude. Em setembro, no Rio de Janeiro, pode acontecer o contrário. A seis meses do retorno do Rock in Rio -, cuja última edição, em 2001, foi marcada pela chuva de garrafas sobre Carlinhos Brown -, fãs de rock rosnam na internet ante o anúncio de que Claudia Leitte, musa do axé, está entre as atrações do evento. Bobagem. Quem protesta se esquece do que é a essência de um festival: o encontro entre diferentes tribos, que se juntam para festejar, beber e paquerar.

“Claudia Leitte confirmada, ninguém merece, não tem nada de rock”, diz num comentário um dos leitores de VEJA. O argumento, repetido por muitos outros antagonistas do axé, é furado, de acordo com o historiador de música brasileira Luiz Américo Lisboa Júnior. “O nome Rock in Rio é somente uma marca. Essa coisa romântica de um festival ideológico como o Woodstock ficou no passado, agora é tudo uma questão de mercado, de reunir mais gente”, afirma Lisboa Júnior, lembrando que festival é local de diversão e que o axé, do qual ele mesmo não é fã, ajuda a vender ingresso. E como: a um semestre da abertura dos portões, já foram comercializadas mais de 100.000 entradas.

Roqueiros podem se sentir frustrados diante de artistas pop e de axé, mas não poderão acusar surpresa, já que a programação é anunciada com antecedência. Tampouco vão sofrer por falta de legítimas bandas de rock. “Serão várias noites e muitos artistas, ninguém será obrigado a assistir à Claudia Leitte. Cada macaco no seu galho e tem galho para todo mundo”, diz o produtor musical Nelson Motta.

Axé n’Roll – Alvo dos ataques de fãs do rock, a cantora Claudia Leitte minimiza o conflito. “Eu canto Led Zeppelin, Guns n’ Roses, Rolling Stones e Pink Floyd em cima do trio, em pleno Carnaval. Mistura é a palavra de ordem.” Margareth Menezes, veterana do axé que se apresentou no Hollywood Rock, em 1990, faz coro. A cantora ressalta que a diversidade de estilos e tendências é própria do Brasil.

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Não é apenas do lado do axé que a bandeira branca se levanta. Tony Bellotto, guitarrista dos Titãs, grupo já escalado para a nova edição do festival, diz não ter “pruridos puristas a essa altura da vida” e rechaça preconceitos. “O Rock in Rio sempre teve proposta ampla, usando o rock mais como símbolo das múltiplas variantes da música pop do que propriamente como o estilo burilado por Chuck Berry”, argumenta.

O baiano Marcelo Nova, que fundou o Camisa de Vênus em Salvador em 1980, diz desprezar o axé, mas entender festivais como eventos de multiplicidade sonora. Não só o Rock in Rio não é feito apenas de rock, como o extinto Free Jazz não tinha somente jazz. E no mundo todo é assim, diz o ex-baterista do grupo O Rappa, Marcelo Yuka, que prepara um álbum com influências do funk carioca para apresentar no Rock in Rio. A atitude roqueira, acredita Yuka, não está mais na quantidade de distorção, de tatuagens nem na quantidade de atitudes inconsequentes que um artista pode tomar, e sim no quanto ele pode ser incisivo, rever e questionar sua carreira, debochar de todos e de si mesmo. “É nessa inquietude que me espelho.”

Apesar de baiana, Pitty é referência para o rock e diz não entender “essa coisa feliz do axé” (VEJA)
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Rock in Bahia – A própria Bahia serve para mostrar que rock e axé podem conviver. Mesmo com todo o suingue herdado da África, o estado tem forte ligação com o rock. E boas contribuições ao gênero no Brasil. Foi na terra dos tropicalistas Caetano e Gil que nasceu um dos maiores guitarristas nacionais, o músico Pepeu Gomes, e que nos anos 1940 a dupla Dodô e Osmar criou a guitarra baiana, uma mistura de cavaquinho e guitarra tradicional. Mais tarde, ela seria levada aos trios elétricos, outra criação da dupla.

Ainda que Caetano e Gil sejam classificados como MPB e Pepeu Gomes como músico eclético, todos tiveram influências do rock e o alimentaram com seus acordes e, especialmente, atitude. “Na Bahia, Luiz Caldas, Dodô e Osmar e até a Ivete Sangalo têm algo de rock”, afirma o jornalista Edmundo Leite, que está escrevendo uma biografia de Raul Seixas, o patriarca do rock nacional, nascido e criado no estado.

“A Bahia é o nosso Tennessee”, conclui Tony Bellotto, comparando a terra de Raul Seixas com o estado onde se formou o fenômeno Elvis Presley. Das terras baianas, aliás, surgiu mais que Raul. Saíram também a banda Camisa de Vênus, uma das referências do punk dos anos 1980, e a cantora Pitty, nome forte do cenário roqueiro dos anos 2000. Pitty, aliás, ainda não está confirmada no Rock in Rio, mas é cotada para o evento. Resta saber se a cantora, que já disse não entender “essa coisa feliz do axé”, vai torcer o nariz como os fãs raivosos do rock ou curtir a balada, como se faz num festival.

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Serviço: O primeiro lote de 100.000 ingressos para o Rock in Rio 2011 está esgotado. Os outros cerca de 500.000 estarão à venda a partir do dia 7 de maio, em shoppings do Rio de Janeiro e no site oficial do evento: https://www.rockinrio.com.br/

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