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Após ofender Marília Mendonça, Alcymar Monteiro nega machismo

Em um texto intitulado '#DevolvamMeuSãoJoão', Monteiro disse que o São João está sendo tomado por 'corsários'

Por Da redação
14 jun 2017, 10h13

O cantor Alcymar Monteiro, que disse que a sertaneja Marília Mendonça cantava “para cachaceiro” em áudio vazado na internet, fez um longo texto em seu perfil no Facebook para se justificar. Em um texto intitulado #DevolvamMeuSãoJoão“, Monteiro disse que o São João está sendo tomado por “corsários”, que não suporta ver seus “conterrâneos” se renderem a ritmos de fora, que “quem conviveu com Gonzaga não se contenta com pouco” e que a “grosseria” de que é acusado contra Marília Mendonça é “uma pequena amostra da dor” que “milhares de nordestinos” sentem pelos “crimes” praticados contra a cultura da região. O cantor ainda nega ser machista.

“Hoje preciso, em nome da verdade, pontuar algumas coisas sobre eventos recentes. Foi divulgado um áudio em que eu, em um grupo privado de WhatsApp, comento sobre a postura de uma artista a respeito de minha amiga Elba Ramalho e por extensão a todos os artistas nordestino-brasileiros”, diz ele, no textão. “O primeiro registro que quero fazer é que em momento nenhum tive uma postura machista. Eu abomino o machismo. Sou, sempre fui e sempre serei um homem feminista. A começar pelo exemplo de minha mãe, Maria Fernandes, que foi uma mulher guerreira e de fibra. Nos meus shows — e tenho milhares de testemunhas — o que mais falo é que detesto quem fala mal de mulher em música. Pessoas vis estão tirando uma frase, um dito popular, fora do contexto e chegando ao absurdo de dizer que eu xinguei alguém de ‘galinha’. Quem me conhece sabe que isso é um absurdo sem precedentes.”

Na sequência, ele fala da “invasão bárbara” que a cultura nordestina estaria sofrendo. “Aos que me acusam de grosseria saibam que isso que falei no áudio é uma pequena amostra da dor que milhares de nordestinos sentem pelos crimes que estão fazendo com nossa cultura. Desde uma versão pornográfica do segundo hino que esse país tem, Asa Branca, até essa invasão bárbara de culturas que nada têm a ver conosco. É um grito que estava há bastante tempo entalado na garganta de qualquer artista nordestino que se dê ao respeito de ter esse título. E agora está criando corpo. Só espero que meus irmão artistas nordestinos externem mais essa revolta, assim como eu sempre fiz.”

Confira abaixo o texto completo e o post de Alcymar Monteiro:

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#DevolvamMeuSãoJoão

Aos que chegaram aqui pela primeira vez, permitam me apresentar. Sou Antonio Alcymar Monteiro dos Santos. Sou Comendador da Cultura Brasileira, através da Ordem do Mérito Cultural. Sou nascido na vila de Ingazeiras, Distrito de Aurora-CE e moro em Recife-PE. Sou compadre de Luiz Gonzaga e gravei com ele duas canções. Sou cantor há 35 anos. Sou um artista nordestino-brasileiro.

Hoje preciso, em nome da verdade, pontuar algumas coisas sobre eventos recentes. Foi divulgado um áudio em que eu, em um grupo privado de WhatsApp, comento sobre a postura de uma artista a respeito de minha amiga Elba Ramalho e por extensão a todos os artistas nordestino-brasileiros.

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O primeiro registro que quero fazer é que em momento nenhum tive uma postura machista. Eu abomino o machismo. Sou, sempre fui e sempre serei um homem feminista. A começar pelo exemplo de minha mãe, Maria Fernandes,
que foi uma mulher guerreira e de fibra. Nos meus shows – e tenho milhares de testemunhas – o que mais falo é que detesto quem fala mal de mulher em música. Pessoas vis estão tirando uma frase, um dito popular, fora do contexto e chegando ao absurdo de dizer que eu xinguei alguém de “galinha”. Quem me conhece sabe que isso é um absurdo sem precedentes.

O segundo registro que preciso fazer diz respeito ao que penso sobre cultura de massa, festas públicas e invasões musicais. As festas de São João têm dono, que é o povo. As festas de São João têm um pai com nome e sobrenome, que é Luiz Gonzaga do Nascimento. Acima disso, abaixo disso, além disso e fora disso não é São João. Podem chamar de qualquer coisa, podem apelidar de Festival Junino, podem chamar do que quiserem, mas por favor não usem o nome de São João em vão.

Algumas pessoas ainda não possuem o distanciamento histórico ou – desculpem a franqueza – inteligência suficiente, para entender O QUE foi Luiz Gonzaga. Não QUEM foi, O QUE foi. Esse homem foi (é!) um fenômeno que passou pelo nosso planeta e o Brasil teve o privilégio de tê-lo por aqui por 77 anos. Tivesse nascido na Europa, cultuado seria como um Beethoven, um Bach, um Mozart… Tal como um monstro-sagrado, do ar, do éter, do nada, esse homem criou vida, arte e música, só Deus sabe com quais dificuldades.

As festas de São João não foram concebidas para competir quem faz o maior ajuntamento de gente. O erro que se tem hoje é imaginar que um São João popular, cultural e público, feito com dinheiro de impostos, possa concorrer com festas privadas. Se você é um empresário, quer investir seu dinheiro em eventos PRIVADOS, contratar aquele artista que está na crista da onda e não tem a menor preocupação com cultura (e ganhar dinheiro com isso), o problema é seu. Vivemos em um mercado livre e o céu é para todos e vai quem quer.

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Agora, se você for um GESTOR PÚBLICO, que tem um compromisso constitucional de garantir a PRESERVAÇÃO e o ACESSO à cultura (artigo 23, podem ver no livrinho) aí vejo todos os problemas do mundo. O dinheiro público deve ser investido para que as crianças e pessoas em formação possam entender de onde eles vieram e para onde eles irão. Um povo sem cultura própria é um povo sem história, sem identidade.

O que me magoa mais é ver alguns conterrâneos ainda dando razão aos corsários. Em uma típica mentalidade de aculturação, parecem agradecer por verem sua cultura sendo destruída nas suas frentes. Como disse em um vídeo, é um verdadeiro festival dos horrores.

Aos que me acusam de grosseria saibam que isso que falei no áudio é uma pequena amostra da dor que milhares de nordestinos sentem pelos crimes que estão fazendo com nossa cultura. Desde uma versão pornográfica do segundo hino que esse país tem, Asa Branca, até essa invasão bárbara de culturas que nada têm a ver conosco. É um grito que estava há bastante tempo entalado na garganta de qualquer artista nordestino que se dê ao respeito de ter esse título. E agora está criando corpo. Só espero que meus irmão artistas nordestinos externem mais essa revolta, assim como eu sempre fiz.

Por fim:

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Quem conviveu com Gonzaga não se contenta com pouco. Tem que ter gogó e cabeça. Não pode se fazer de mouco.

Tem que saber de onde veio e para onde está indo. Tem que conhecer seu povo: do velho ao menino.

Enquanto vivo estiver serei um defensor intransigente da minha cultura nordestina. Não porque é melhor ou pior, mas porque é genuína!

Enquanto força tiver cantarei nos palcos do meu Nordeste, e saberei que estou refletindo ali 60 milhões de cabras-da-peste.

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Um povo que “antes de tudo é um forte”, um povo que faz a sua própria sorte, um povo que ainda não nasceu nem quem quebre nem entorte, um povo que é temente à Deus, mas que não teme nem mesmo a própria morte.

Continuo apaixonado pelas festas de São João, pelas romarias de Santos, por Padim Ciço, Frei Damião! Continuem apaixonados por Jackson e Elba Ramalho, por Sivuca e Amelinha, por Marinês e Gonzagão!

Vamos fazer do Nordeste uma grande colcha de retalho, em que cada quadradinho cortado represente um trio pé de serra. Vamos fazer do Nordeste uma verdadeira aquarela, pintada de canto a canto da tela, com as cores da nossa terra.

Por isso encarecidamente peço aos que só querem atenção:
Deixem em paz o meu Nordeste, e devolvam meu São João!

 

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