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Aos 97 anos, morre no Rio Dona Ivone Lara, a grande dama do samba

O corpo será velado agora de manhã na quadra da Império Serrano, sua escola do coração

Por Redação
Atualizado em 17 abr 2018, 17h51 - Publicado em 17 abr 2018, 07h44

A cantora e compositora Dona Ivone Lara, uma das pedras fundamentais do samba carioca, autora de clássicos como Sonho Meu e Alguém me Avisou, morreu na noite desta segunda-feira, no Rio de Janeiro. Ela estava internada com um quadro de anemia desde a última sexta-feira, 13 de abril, dia em que completou 97 anos, na Coordenação de Emergência Regional, anexa ao Hospital Miguel Couto, no Leblon.

Apesar da idade avançada, Dona Ivone, venerada por sambistas de diferentes gerações e chamada de “Rainha” e “Primeira-Dama do Samba”, fez shows até pouco tempo atrás. Em 2016, celebrou os 95 anos numa apresentação que contou com outros artistas e seu neto André Lara, uma companhia constante. Em 2010, fora homenageada pelo Prêmio da Música Brasileira. Nos últimos anos, a cantora se deslocava em cadeira de rodas e era amparada por familiares. Em suas aparições públicas, estava sempre sorridente e alinhada. Onde chegava, era ovacionada.

O corpo será velado pela manhã na quadra da Império Serrano, sua escola do coração, em Madureira, na Zona Norte da cidade. O sepultamento está marcado para a tarde, no cemitério de Inhaúma. A sambista foi homenageada pela Império Serrano em 2012, com o enredo Dona Ivone Lara: o Enredo do Meu Sambacomposto por Arlindo Cruz, Tico do Império e Arlindo Neto. “A rainha da casa, mãe esposa de fé / Diz que o dom de compor é coisa de mulher / Com o mestre venceu o desafio ôôô / Nos cinco bailes da história do meu Rio”, diz uma das estrofes da música.

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O título cita um dos clássicos de Dona Ivone, Enredo do Meu Samba, aquele que termina com os versos “Nas cinzas pude perceber / Na apuração perdi você”.

A Portela, outra escola tradicional de Madureira, divulgou uma nota em que chama, com Justiça, Dona Ivone Lara de “patrimônio do Império, da Portela e da cultura brasileira”. Considerada um dos maiores nomes da música popular brasileira de todos os tempos, a cantora sempre foi muito ligada aos compositores da Portela. Era amiga de Candeia, Monarco e Paulinho da Viola, por exemplo.

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O sambista Dudu Nobre usou as redes sociais para homenagear a artista. “Obrigado por tudo, Dona Ivone Lara. As bênçãos, os ensinamentos, as conversas, os sambas, a poesia. Descanse em paz, Grande Dama do Samba”.

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Sonho meu,sonho meu Vai buscar quem mora longe Sonho meu!!! Obrigado por tudo Dona Ivone Lara. As bênçãos,os ensinamentos,as conversas,os sambas,a poesia. Descanse em paz “Grande Dama do Samba”

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Vida e obra

Nascida em 13 de abril de 1921, no Rio de Janeiro, Dona Ivone Lara compôs seu primeiro samba aos 12 anos, Tiê, Tiê, depois de ganhar de seus primos um pássaro da espécie. O bichinho, bem como a sua estreia na composição, é citado no samba-enredo em sua homenagem. “Quero ver quem não vai se embalar / No encanto do Tiê Oia Lá Oxá”, dizem dois dos versos da música do trio Arlindo Cruz, Tico do Império e Arlindo Neto.

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Ivone Lara aprendeu a tocar cavaquinho com o tio Dionísio Bento da Silva, que tocava violão de sete cordas e integrava o grupo de chorões que reunia Pixinguinha e Donga. Primeira mulher a ganhar uma disputa de samba-enredo numa escola de samba no Rio, em 1965, com a música Os Cinco Bailes da História do Rio, parceria com Silas de Oliveira e Bacalhau, era filha de músicos ligados ao Carnaval.

Sua primeira escola de samba foi a Prazer da Serrinha, que começou a frequentar em 1945 e para a qual compunha sambas que eram assinados pelo seu primo Mestre Fuleiro, por causa do preconceito que existia contra as mulheres nas agremiações, à época. A Império Serrano, fundada em 1947, era uma dissidência da Prazer da Serrinha. Fuleiro foi um de seus criadores.

Enfermeira e assistente social, trabalhou com doentes mentais e foi auxiliar da pioneira psiquiatra Nise da Silveira. Ingressou na Verde-e-Branco de Madureira em 1965 e gravou seu primeiro disco, Samba Minha Verdade, Samba Minha Raiz, em 1974.

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Ao se aposentar da área da saúde, em 1977, passou a se dedicar integralmente à música. O maior parceiro, na carreira musical, foi Délcio Carvalho, com quem criou, entre muitos sambas, Sonho Meu, Acreditar, Minha Verdade e Em Cada Canto uma Esperança. Ele era dezoito anos mais jovem e morreu em 2013.

A sambista foi gravada por Clara Nunes, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Paulinho da Viola, Marisa Monte e outros nomes da MPB. Em rodas de samba cariocas, composições como Tiê e Mas Quem Disse que Eu te Esqueço, esta com Hermínio Bello de Carvalho, sempre são lembradas.

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