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Anna Muylaert fala de família e de identidade em novo filme

Diretora de ‘Que Horas Ela Volta?’ conta história de garoto que descobre ter sido roubado na maternidade e tem a oportunidade de se reinventar

Por Maria Carolina Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 jul 2016, 10h44 - Publicado em 22 jul 2016, 08h23

As relações familiares estendidas – e complexas, para não dizer complicadas – são novamente o terreno em que pisa a cineasta Anna Muylaert em Mãe Só Há uma, longa que chega agora aos cinemas. Rodado em paralelo a Que Horas Ela Volta?, filme pelo qual a paulista ganhou projeção no ano passado, Mãe Só Há uma tem um tom diferente e um elemento a mais: aqui, além de laços intrincados, o filme explora a questão da identidade. Inspirado no caso real do menino Pedrinho, raptado ainda na maternidade e devolvido à família biológica aos 16 anos, o longa conta a história de Pierre (Naomi Nero, sobrinho do ator Alexandre Nero), que descobre ter sido sequestrado aos 17 anos e, ao mudar de casa, ganha uma nova vida e também a chance de se reinventar.

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Embora menos eloquente em seus silêncios e de feição menos clássica na narrativa, Mãe Só Há uma é mais uma amostra da sensibilidade de Anna Muylaert para tratar de relações humanas. O que para muitos pode parecer um final feliz – ser localizado pela polícia e entregue à família de sangue – é apenas o ponto de partida do filme, que se volta para os desafios enfrentados por Pierre daí em diante. Se a adolescência já é um período de transição e de estranhamento, Anna intensifica essa experiência ao arrancar o protagonista do lar onde cresceu e lançá-lo em uma crise existencial absoluta, da qual nem a sua sexualidade, longe de ser estanque, escapa.

Pierre não apenas gosta de meninos e meninas. Ele também gosta de se vestir como fazem meninos e meninas. Unhas pintadas, fio dental e cinta-liga são alguns dos traços que ele toma emprestados do vestuário feminino. Na casa de Aracy (Dani Nefussi), a mãe sequestradora, ele se tranca no banheiro para experimentar peças e maquiagem, mesmo que ela tolere, sem qualquer muxoxo, os cabelos longos e as unhas azuis. Já na casa da mãe biológica, Glória (idem), seu figurino vai ser visto como provocação – e caberá ao espectador decidir o que move Pierre. Glória e Aracy são vividas pela mesma atriz, uma forma de a diretora brincar com a tese freudiana de que carregamos um mesmo modelo materno por toda a vida – a ideia por trás do título – e para reforçar o impacto da mudança na vida do personagem. Pierre é criado por uma mulher que o trata como filho e arrancado dela, ainda que com justiça, por outra, que de fato o gerou.

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O confronto entre pais e filhos adolescentes, inevitável, aqui é também mais delicado. Glória e o marido, Matheus (Matheus Nachtergaele), estão ansiosos para reconstruir os dezessete anos que perderam de Felipe, nome com que teriam batizado o bebê, sem admitir que esse tempo é irrecuperável. E sem admitir que idealizaram o filho por dezessete anos e que Pierre, o garoto que surge defronte deles, nada tem do menino que imaginaram. O estranhamento da adolescência, que também é experimentado pelos pais quando parecem não mais reconhecer as crianças que tinham em casa, é outro sentimento amplificado pelo filme. Pierre, que Glória e Matheus insistem em chamar de Felipe, ampliando a tensão do longa, é um completo estranho para eles.

Pierre é estranho como a Jéssica (Camila Márdila) de Que Horas Ela Volta? é para a própria mãe, Val (Regina Casé). É quase como se Pierre fosse adotado e tivesse de lidar com as loucas expectativas de sua nova família – o que faz lembrar de outro filme de Anna Muylaert, Durval Discos. Mas Mãe Só Há uma não é nem um filme nem outro. É um longa que se basta por si só. E que prova o valor de uma cineasta que, embora circunde o mesmo tema, parece longe de se esgotar.

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