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A procura pelos tratamentos contra a calvície cresceu na quarentena

Sem precisarem aparecer em público, envergonhados, os calvos procuraram tratamento na pandemia. Com uma boa-nova: as técnicas estão cada vez mais eficazes

Por Luiz Felipe Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 set 2020, 20h04 - Publicado em 18 set 2020, 06h00

A preocupação com a calvície é um drama recorrente e imemorial dos homens — drama só comparável ao desconforto de aparecer em público depois de uma intervenção cirúrgica para reposição dos fios. Salvos durante a pandemia por poder ficar em casa, longe dos olhos de outras pessoas, escondidos pela má iluminação das chamadas de videoconferência, os calvos procuraram maciçamente os consultórios de dermatologia em meio à quarentena, sobretudo nas últimas semanas. Encontraram, enfim, no confinamento, um modo mais aceitável, menos público, de tratar o incômodo estético. Especialistas no Brasil ouvidos por VEJA confirmam a intensa movimentação. Os números mostram que esse público não é nada reduzido. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, metade do universo masculino de até 50 anos tem calvície. E a boa nova é que há bons tratamentos, cada vez mais sofisticados.

O procedimento mais eficaz é a cirurgia. O mercado de transplantes capilares, que nasceu nos Estados Unidos nos anos 1950, hoje é gigantesco. Cresceu mais de 150% na última década. No ano passado, foram realizadas mais de 735 000 intervenções em todo o mundo. “O sucesso tem base no avanço da técnica, que acabou com o antigo estigma de “cabelo de boneca”, diz o cirurgião Márcio Crisóstomo, um dos especialistas que mais fazem o procedimento no país — cerca de 300 cirurgias por ano em sua clínica em Fortaleza. As mais sofisticadas (e caras) consistem em transferir fios de outras regiões do corpo, como da nuca do próprio paciente (veja no quadro abaixo). O tratamento custa, em média, 20 000 a 40 000 reais. Há ainda os métodos convencionais, nada invasivos, como a ingestão de finasterida, medicamento que atua no couro cabeludo bloqueando a ação de uma substância envolvida no afinamento do cabelo antes da queda; e o minoxidil, um vasodilatador que estimula a circulação sanguínea e permite que mais oxigênio e nutrientes cheguem à raiz dos cabelos. “Podem ser interessantes para calvícies leves, mas perdem o efeito se o uso dos remédios for interrompido”, diz o tricologista Ademir Leite, diretor da Academia Brasileira de Tricologia. Há outros caminhos de esperança. Estudo recente publicado pela reputada revista científica Nature indicou o sucesso promissor da utilização de células tronco para fazer crescer as madeixas. A técnica foi bem-sucedida em ratos de laboratório — há, portanto, estrada pela frente.

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A genética explica o fato de o problema acometer majoritariamente os homens. O gene da calvície é dominante no sexo masculino. Ou seja, manifesta-se mesmo quando herdado somente do pai ou apenas da mãe. E, ainda assim, a herança brota na presença de hormônios masculinos, como a testosterona, que costumam ser muito baixos nas mulheres. Teoricamente, para prevenir a calvície bastaria inibir a ação da testosterona. No entanto, há relatos de que tal recurso provocaria efeitos danosos, como redução da libido.

Desde a Antiguidade já se tentava resolver a calvície. Papiros egípcios de 4000 a.C. recomendavam a aplicação no couro cabeludo de uma mistura de gorduras do corpo de animais, como leão, jacaré e cobra. Júlio César (100 a.C.-44 a.C.), o imperador romano, apelava para receitas que incluíam ratos queimados. Curiosamente, a calvície é menos rejeitada onde é menos frequente. Nas culturas orientais, os monges rezavam para ficar calvos — a queda dos cabelos era interpretada como o desprendimento dos sentimentos mundanos. Do ponto de vista funcional, nada precisaria ser feito, ressalve-se. Os cabelos são praticamente supérfluos. Os humanos sobreviveriam se todas as pessoas fossem carecas. Os fios servem para proteger a cabeça contra o excesso de frio ou de calor. Um simples chapéu, em tese, poderia substituí-los. Apesar da pouca utilidade, o cabelo ganhou o status de item essencial da beleza. “É uma das questões culturais mais enraizadas na cultura ocidental ligada à autoestima”, diz o cirurgião plástico Luiz Paulo Barbosa, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. De mãos dadas com preocupações estéticas, a ciência avança. Virá o dia, que pode não estar muito distante, em que ser ou não ser calvo será uma mera escolha.

Publicado em VEJA de 23 de setembro de 2020, edição nº 2705

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