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A nova safra de artistas que pôs a África no centro da música pop

Com letras em iorubá e ibo, eles dominam as paradas e atraem o interesse de astros como Madonna e Justin Bieber

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 24 abr 2022, 08h00

Em 1973, Paul McCartney passou uma temporada em Lagos, capital da Nigéria, em busca de novas sonoridades para o álbum Band on the Run, da sua então banda pós-beatles, Wings. À época, o país africano era visto como um destino miserável e inóspito, mas chamava a atenção por exportar um ritmo criativo, o afrobeat, mistura de jazz com funk cantada em iorubá, uma das principais línguas locais. À frente da tendência estava um ídolo inconteste: Fela Kuti. “Chorei assim que o ritmo bateu. Foi um dos melhores momentos musicais da minha vida”, disse Paul ao relembrar da apresentação de Kuti no badalado African Shrine, em Lagos. Ironicamente, o músico africano, que já era uma lenda no país, não gostou da presença de Paul, e foi aos jornais dizer que o inglês estava roubando a música de lá. Ao final, eles ficaram amigos, mas o ex-­beatle jamais incluiria nada da África em suas músicas.

Twice As Tall (Vinyl)

Quase cinquenta anos depois, jovens músicos nigerianos de nomes tão exóticos como Wizkid, Davido, Fireboy DML, CKay e Burna Boy seguem os passos de Fela Kuti. Mas a nova geração professa um afrobeats (agora no plural) renovado. Abertos às novas influências e com canções em inglês, mas também em iorubá e ibo, outra língua do país, eles trocam o jazz pelas batidas favoritas do momento, o trap e o hip-hop. O resultado, no entanto, é original e poderoso o suficiente para encantar artistas graúdos como Madonna, Justin Bieber, Drake e Ed Sheeran, que logo se interessaram em gravar com eles. Assim, pela primeira vez na história, a Nigéria passou a figurar com frequência nas listas das músicas mais tocadas do mundo — a ponto de a revista Billboard criar recentemente um ranking americano só para o afrobeats.

FUTEBOL - Davido: o músico está na trilha sonora oficial da Fifa na Copa do Mundo -
FUTEBOL - Davido: o músico está na trilha sonora oficial da Fifa na Copa do Mundo – (Lorne Thomson/Redferns/Getty Images)

O surgimento de uma nova safra nigeriana tão potente espelha o momento atual do país africano. Embora ainda enfrente problemas arraigados como a pobreza e o terrorismo islâmico do Boko Haram, a Nigéria já tem quase a mesma população do Brasil (206 milhões de pessoas) e detém reservas de petróleo e de insumos para fertilizantes que a colocam em excelente posição na economia mundial nos dias de boicote a outro grande produtor desses itens, a Rússia. Como a Nigéria sempre foi um caldeirão de boa música, nada mais natural que seu soft power — o poder de influenciar e ditar comportamentos culturais — se imponha em um período de alta do país.

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Burna Boy – African Giant

Aos 31 anos, Wizkid é um dos principais expoentes dessa nova era. Com mais de 1,2 bilhão de visualizações de seus vídeos no YouTube e 14,3 milhões de seguidores no Instagram, ele foi o primeiro nigeriano a figurar na disputada lista Hot 100 da Billboard, que reúne apenas as canções mais tocadas nos Estados Unidos, com a faixa Essence, lançada em parceria com Justin Bieber. O feito lhe rendeu duas indicações ao Grammy de 2021. Ele não ganhou, mas o troféu foi para outro nigeriano, Burna Boy, que levou o prêmio por Twice As Tall, na categoria de melhor álbum de música global, coincidentemente também em parceria com Bieber.

CULTUADO - Fireboy DML: parceria musical com Madonna e Ed Sheeran -
CULTUADO - Fireboy DML: parceria musical com Madonna e Ed Sheeran – (@ckay_yo/Instagram)

No futebol, a Nigéria, que já foi carrasca da seleção brasileira nos Jogos Olímpicos de 1996, marcou outro golaço neste ano com um representante do país na trilha sonora oficial da Fifa para a Copa do Mundo do Catar. O músico Davido (ele nasceu nos EUA, mas foi criado em Lagos e tem dupla nacionalidade) foi um dos escolhidos para interpretar Better Together, que contou também com a participação da americana Trinidad Cardona e da catarense Aisha. A força nigeriana vai além. O carismático Fireboy DML cativou Madonna e regravou com ela o hit Frozen, de 1998. Com o britânico Ed Sheeran, ele gravou a canção Peru, na qual canta em iorubá.

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Apollo (Canary Yellow Vinyl & Tangerine Vinyl)

Apesar de aderirem aos ritmos internacionais, esses artistas se orgulham, por sinal, de seus idiomas nativos. Em Love Nwantiti (Ah Ah Ah), o cultuado CKay canta em ibo sobre seu “amorzinho” (tradução da palavra nwantiti). Lançada em 2019, a música explodiu no ano passado ao viralizar no TikTok. A África, definitivamente, está no centro do mapa da música.

Publicado em VEJA de 27 de abril de 2022, edição nº 2786

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Apollo (Canary Yellow Vinyl & Tangerine Vinyl)
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