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2012 será o ano dos remakes na Globo

Com grade maior de novelas e audiência em baixa, emissora investe mais pesado na readaptação de clássicos – devem ser três no ano. Mais que um recurso para celebrar o gênero ou um autor, a estratégia pode ser uma forma de driblar a falta de fôlego criativo

Por Mariana Zylberkan
1 jan 2012, 08h19

A cada nova marca de audiência de Fina Estampa, o autor Aguinaldo Silva vai ao Twitter comemorar. “Fom! Fom!”, escreve. Não é para menos. A queda acentuada do público das novelas nos últimos anos é tamanha que, hoje, 39 pontos no Ibope na Grande São Paulo, no horário das nove, passaram a ser motivo de festa, quando o ideal para a Globo, há cinco anos, eram 50. Diante desse cenário, chamam atenção os planos da emissora para 2012, quando ela deve levar ao ar três readaptações – além das já anunciadas Guerra dos Sexos, de Silvio de Abreu, e Gabriela, de Walcyr Carrasco, está em estudo Dona Flor e Seus Dois Maridos. A posição oficial do canal é de que a convergência de remakes é uma coincidência provocada pela homenagem a Jorge Amado, cujo centenário é comemorado em 2012. Mais do que isso, porém, o recurso levanta suspeitas sobre o fôlego criativo da teledramaturgia global.

Os remakes podem ser uma arma valiosa, tanto para preencher a grade de dramaturgia da emissora, alargada com a criação do horário das 23h, como para elevar a qualidade das tramas. Só clássicos são retrabalhados. O aumento da demanda por folhetins e o questionamento da qualidade por espectadores cansados da repetição de fórmulas são inimigos internos que a Globo precisa enfrentar. O investimento em um número maior de remakes é uma saída para o quadro.

A TV Globo afirma que não há supervalorização de remakes em detrimento de novelas originais. “Cada remake é uma nova novela”, diz a emissora em nota ao site de VEJA. “O que temos hoje é apenas a coexistência dos dois tipos de produção, o que ocorre desde o início do processo de industrialização da arte (1930). Vale lembrar também que, além do remake Gabriela, temos previstas, só no primeiro semestre, cinco produções originais – duas minisséries – de Maria Adelaide Amaral e de Euclydes Marinho – e três novelas dos autores João Emanuel Carneiro, Elizabeth Jhin e Filipe Miguez e Izabel de Oliveira.”

Apesar de os autores agora contarem com as facilidades da internet, o processo que envolve a criação de uma novela continua trabalhoso. “Tenho levantado cedo, escrito o dia todo e ido dormir lá pela meia-noite, como sempre fiz. Hoje, conseguimos informações para pesquisa com maior rapidez, nos comunicamos com maior facilidade com a produção, mas o trabalho de criar, ou no caso, recriar é o mesmo”, conta Silvio de Abreu que, atualmente, está em fase de readaptação dos capítulos de Guerra dos Sexos, remake que irá ocupar a faixa das sete a partir de setembro.

Abreu lembra que retrabalhar novelas de sucesso no passado não é um caminho certo para a audiência. “Pecado Capital e Irmãos Coragem não fizeram sucesso em seus remakes.” Mesmo assim, clássicos são textos de qualidade, o que pode estar em falta na Globo, onde o modo industrial de produção vem sufocando autores, na opinião do dramaturgo Lauro César Muniz, ex-Globo.

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“Estão faltando cabeças coroadas na direção da emissora para extrair o melhor de cada autor. Então, surge a produção em série, a máquina de entretenimento com muitos colaboradores escrevendo. Perde-se o estilo, o foco central da história, porque num trabalho coletivo a criatividade e as ideias se diluem. É impossível escrever uma novela de 200 capítulos ou mais sem perder a qualidade”, diz o autor, que se prepara para estrear a novela Máscaras, em abril, na Record, emissora em que trabalha desde 2006 após ter escrito novelas para a Globo por mais de 30 anos.

“Talvez os autores estejam já muito cansados, esgotados, sem garra para enfrentar a maratona de uma novela imensa”, acredita Muniz. A queixa do autor, aliás, se faz presente também entre atores como Fernanda Montenegro, para quem a gravação de uma novela é um período difícil. “As novelas sempre foram industrializadas mas, naquele tempo, a carga de trabalho era suportável. É preciso seguir o exemplo do passado. Eu fiz Guerra dos Sexos gravando três dias por semana, dois em estúdio e um dia de cenas externas, e a novela durou seis meses. Trabalhar era, então, um prazer. Hoje, a mesma novela teria quatro meses a mais”, disse a atriz em entrevista ao site de VEJA, no início de outubro, na reestreia do monólogo Viver Sem Tempos Mortos, em São Paulo.

Além de contribuir para o ritmo frenético de produção de capítulos, o remake alimenta as narrativas transmídias (aquelas disseminadas em diferentes plataformas, como redes sociais e os celular) e atende aos planos da Globo de exportar suas criações. “Ampliaram-se as estratégias de ocupação de espaço das novelas da Globo, o que exige muito dos autores. Os remakes funcionam como uma resposta rápida a essas estratégias de mercado”, diz a pesquisadora Silvia Borelli, integrante do Centro de Estudos da Telenovela da Universidade de São Paulo (USP).

Os remakes ocupam, portanto, um lugar diferente do passado. Sua crescente constância na programação é indício de busca pelo público exige outras estratégias. Mais do que um ano de remakes, 2012 será o ano do desafio criativo da emissora carioca. Será quando ela terá de reinventar seu modo de produção de novelas para seguir liderando. Com folga, já não dá mais.

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