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“O vinho oferece conexão direta com o conceito de hospitalidade italiano”

Gabriele Gorelli, único Master of Wine da Itália, está no Brasil para divulgar os rótulos e tradições do país

Por André Sollitto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 21 set 2022, 09h06

Embora a Itália seja o maior produtor de vinhos do mundo, até 2021 não havia um único Master of Wine, título mais alto dado aos profissionais do setor, baseado no país.

A situação mudou com Gabriele Gorelli, que alcançou o reconhecimento e se tornou o segundo italiano a receber a honraria, mas o único que ainda vive na Itália. Desde então, assumiu a tarefa de divulgar a enorme variedade de rótulos, castas, denominações de origem e produtores do país.

Agora, Gorelli está no Brasil para participar da feira Wine South America, que acontece entre esta quarta (21) e sexta (23) no Rio Grande do Sul, e vai oferecer masterclasses sobre vinho italiano. Em conversa com a VEJA, dá dicas para quem pretende se aprofundar nos rótulos da Itália e fala sobre as transformações vividas pelo setor.

Você é o único italiano a receber o título de Master of Wine. Como é a responsabilidade de ser um representante dos vinhos italianos para o mundo?
Esse sempre foi um dos meus principais objetivos. Quando recebi o título em 2021 eu quis ser o rosto do vinho italiano, que já é bastante conhecido na Itália, e levar esse conhecimento mais longe. E faço isso por meio da conexão direta do vinho com o conceito de ser italiano, da hospitalidade. É uma honra para mim.

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Para quem nunca se aventurou pelo vinho italiano, quais são as dicas para começar?
Sabemos que a quantidade de estilos da Itália pode ser muito confusa. São muitas variedades, apelações de origem, zonas distintas. Portanto, é preciso ter algum conhecimento. Eu começaria focando em regiões. Temos algumas regiões de enorme reputação. Buscá-las pode ser interessante, porque elas oferecem uma ideia geral do que eu chamaria de categorias de vinho, com sua personalidade e qualidade. E elas oferecem muitas oportunidades. O que é importante é ter a oportunidade de provar o vinho mais como uma manifestação cultural da Itália, e não apenas uma experiência sensorial.

Embora a Itália seja a maior produtora de vinhos do mundo, ela importa pouco para o Brasil, um país que tem grande conexão com a gastronomia italiana. Como ampliar essa participação dos rótulos italianos?
A Itália vem perdendo sua participação no mercado lentamente. Há uma série de fatores envolvidos, como o câmbio desfavorável, a falta de acordos comerciais, enfim, todas essas coisas. Então, o que vemos hoje é uma grande polarização: os vinhos de alto padrão continuam indo bem. E os vinhos de entrada também. O problema está no meio. Porque é nesse segmento que está o que chamo de luxo diário. É a oportunidade de provar algo com uma conexão maior com o terroir. Mas esse segmento está perdendo espaço. Eu não culpo as vinícolas que preferem fazer algo mais simples, mas é um problema que precisamos resolver. O consumo de vinho está caindo, especialmente os tintos, e as vinícolas terão que ser mais criteriosas com a maneira de produzir e vender seus vinhos. Oferecer rótulos que realmente mostrem o território em que foram produzidos é uma grande oportunidade e pode oferecer a mercados emergentes, como o Brasil, a chance de conhecer mais sobre a Itália.

Existem muitos estilos italianos reverenciados, como Barolo e Brunello di Montalcino. Quais são os estilos menos conhecidos que merecem igual atenção?
Há muitos estilos subestimados. Falamos de Barolo. É um vinho austero, muito tânico. Há outras variedades feitas com a uba nebbiolo que podem ser mais acessíveis, como Roero. Mesmo um rótulo feito apenas com nebbiolo pode ajudar no caminho até um Barolo. O mesmo acontece na região da Toscana. Antes do Brunello, eu recomendaria provar alguns toscanos envelhecidos, feitos com a sangiovese, que oferecem uma experiência completamente diferente. Adoro os espumantes também, como os feitos pelo método Asti com a uva moscatel, que tem um açúcar residual que ajuda na “drinkabilidade”.

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Você está familiarizado com os vinhos brasileiros?
Eu já participei de competições internacionais em que serviram espumantes brasileiros para serem julgados. E eles eram surpreendentemente bem-feitos. Eu gostei de vários, embora não saberia dizer quais são. Acho que o Brasil mostrou que é capaz de produzir e exportar bons espumantes, e o consumo desse tipo de vinho tem crescido muito, então há muito potencial aí.

Qual é o novo perfil do consumidor de vinho na Itália?
Recentemente, vi dados de duas pesquisas da Wine Intelligence sobre o consumo de vinhos por jovens nos Estados Unidos e na Itália. E os resultados são completamente diferentes. Nos Estados Unidos, o vinho é consumido principalmente em festividades e celebrações. Os jovens se preocupam com a beleza dos rótulos e com o sabor do vinho apenas. Na Itália, acontece o oposto. Eles vão buscar informações sobre produtores na internet, querem conhecer estilos de nicho e descobrir os pequenos viticultores. Estão dispostos a investigar. É uma boa tendência, especialmente se eles estiverem próximos desses produtores.

Você vem ao Brasil principalmente para realizar algumas aulas especiais. Pode contar um pouco sobre elas?
Vamos realizar três tipos de masterclass diferentes, mesclando vinhos que são importados para o Brasil com outros que ainda não têm um representante local, mas que têm grande potencial de serem inseridos no mercado. Serão principalmente vinhos tintos de estilos recorrentes e populares, de maior corpo. Um amarone, um brunello moderno, algo da Campagna e da Puglia. Vinhos que têm a capacidade de serem polihédricos, no sentido de que têm uma história a contar.

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