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Por Duda Monteiro de Barros
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O texto deste médico teve mais de 300.000 compartilhamentos

Artigo de Carlos Bayma, de Recife, foi inspirado em experiência pessoal da juventude

Por Luísa Costa Atualizado em 28 mar 2018, 16h48 - Publicado em 28 mar 2018, 13h32

O médico Carlos Bayma, pernambucano morador do Recife, levou um susto quando procurou por seu nome no Google e encontrou milhares de resultados. Todos citavam um texto que havia publicado cinco anos atrás em um blog pessoal, no qual discorre sobre os riscos de encontrar soluções medicamentosas para todos os problemas da vida. Replicado à exaustão, já passa dos 300.000 compartilhamentos em apenas uma das postagens do Facebook.

Bayma relata que a publicação lhe rendeu algumas dores de cabeça, como conta ao blog.

“Não entendi porque viralizou. É uma realidade do dia-a-dia que não é muito difícil de perceber”, explica, em referência aos riscos de excessos em medicamentos. O texto narra como o início de um tratamento baseado em fármacos para a ansiedade e a depressão acaba por desencadear a necessidade de tomar vários outros, em uma cadeia infernal de efeitos colaterais que minam qualquer possibilidade de qualidade de vida.

Bayma diz que, embora leve em conta todos os seus conhecimentos médicos, escreveu o artigo como um desabafo por um drama que viveu – e que mudou os rumos de sua vida, inclusive a profissional. Formado na Universidade Federal de Pernambuco em 1988, sua área de especialidade foi, por muito tempo a Urologia.

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Hoje está “na casa dos 60” anos, mas começou a sofrer com depressão e ataques de pânico aos 29. “Os remédios me deixaram em uma situação deplorável. Eu vivi isso. Eu não tomava regularmente nenhum remédio. Alguns anos depois já tomava até dez, virei quase diabético”. Ao perceber que seu quadro não tinha melhoras prolongadas, procurou conhecimento em outros ramos da medicina. Mudou totalmente o padrão de vida e o modo de atender, e hoje em dia concentra seus conhecimentos e esforço com pacientes na medicina preventiva, que visa maior qualidade de vida.

“Eu não tenho nada contra a medicina tradicional. Do ponto de vista de salvar vidas, atender emergências, é excelente. Mas quando parte para o aspecto crônico, de longo prazo, é uma lástima. É preciso tratar causas, e não sintomas”, reforça o médico. Embora endosse tudo que disse, Carlos afirma que não escreveu o texto com nenhuma pretensão de fazer um manifesto, muito menos ferir alguém: “Tem gente que veste a carapuça, tem gente que fica com raiva. Sofri assédio por causa do texto, alguns colegas ficaram chateados. Mas é só minha opinião. Embora isso chateie algumas pessoas e algumas corporações, é a opinião de quem trabalha há trinta anos seriamente, que conhece a indústria”, conclui.

Leia o texto na íntegra:

Aos 30 anos, você tem uma depressãozinha, uma tristeza meio persistente: prescreve-se FLUOXETINA.

A Fluoxetina dificulta seu sono. Então, prescreve-se CLONAZEPAM, o Rivotril da vida. O Clonazepam o deixa meio bobo ao acordar e reduz sua memória. Volta ao doutor.

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Ele nota que você aumentou de peso. Aí, prescreve SIBUTRAMINA.

A Sibutramina o faz perder uns quilinhos, mas lhe dá uma taquicardia incômoda. Novo retorno ao doutor. Além da taquicardia, ele nota que você, além da “batedeira” no coração, também está com a pressão alta. Então, prescreve-lhe LOSARTANA e ATENOLOL, este último para reduzir sua taquicardia.

Você já está com 35 anos e toma: Fluoxetina, Clonazepam, Sibutramina, Losartana e Atenolol. E, aparentemente adequado, um “polivitamínicos” é prescrito. Como o doutor não entende nada de vitaminas e minerais, manda que você compre um “Polivitamínico de A a Z” da vida, que pra muito pouca coisa serve. Mas, na mídia, Luciano Huck disse que esse é ótimo. Você acreditou, e comprou. Lamento!

Já se vão R$ 350,00 por mês. Pode pesar no orçamento. O dinheiro a ser gasto em investimentos e lazer, escorre para o ralo da indústria farmacêutica. Você começa a ficar nervoso, preocupado e ansioso (apesar da Fluoxetina e do Clonazepam), pois as contas não batem no fim do mês. Começa a sentir dor de estômago e azia. Seu intestino fica “preso”. Vai a outro doutor. Prescrição: OMEPRAZOL + DOMPERIDONA + LAXANTE “NATURAL”.

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Os sintomas somem, mas só os sintomas, apesar da “escangalhação” que virou sua flora intestinal. Outras queixas aparecem. Dentre elas, uma é particularmente perturbadora: aos 37 anos, apenas, você não tem mais potência sexual. Além de estar “brochando” com frequência, tem pouquíssimo esperma e a libido está embaixo dos pés.

Para o doutor da medicina da doença, isso não é problema. Até manda você escolher o remédio: SILDANAFIL, TADALAFIL, LODENAFIL ou VARDENAFIL, escolha por pim-pam-pum. Sua potência melhora, mas, como consequência, esses remédios dão uma tremenda dor de cabeça, palpitação, vermelhidão e coriza. Não há problema, o doutor aumenta a dose do ATENOLOL e passa uma NEOSALDINA para você tomar antes do sexo. Se precisar, instila um “remedinho” para seu corrimento nasal, que sobrecarrega seu coração.

Quando tudo parecia solucionado, aos 40 anos, você percebe que seus dentes estão apodrecendo e caindo. (entre nós, é o antidepressivo). Tome grana pra gastar com o dentista. Nessa mesma época, outra constatação: sua memória está falhando bem mais que o habitual. Mais uma vez, para seu doutor, isso não é problema: GINKGO BILOBA é prescrito.

Nos exames de rotina, sua glicose está em 110 e seu colesterol em 220. Nas costas da folha de receituário, o doutor prescreve METFORMINA + SINVASTATINA. “É para evitar Diabetes e Infarto”, diz o cuidador de sua saúde(?!).

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Aos 40 e poucos anos, você já toma: FLUOXETINA, CLONAZEPAM, LOSARTANA, ATENOLOL, POLIVITAMÍNICO de A a Z, OMEPRAZOL, DOMPERIDONA, LAXANTE “NATURAL”, SILDENAFIL, VARDENAFIL, LODENAFIL ou TADALAFIL, NEOSALDINA (ou “Neusa”, como chamam), GINKGO BILOBA, METFORMINA e SINVASTATINA (convenhamos, isso está muito longe de ser saudável!). Mil reais por mês! E sem saúde!!!

Entretanto, você ainda continua deprimido, cansado e engordando. O doutor, de novo. Troca a Fluoxetina por DULOXETINA, um antidepressivo “mais moderno”. Após dois meses você se sente melhor (ou um pouco “menos ruim”). Porém, outro contratempo surge: o novo antidepressivo o faz urinar demoradamente e com jato fraco. Passa a ser necessário levantar duas vezes à noite para mijar. Lá se foi seu sono, seu descanso extremamente necessário para sua saúde. Mas isso é fácil para seu doutor: ele prescreve TANSULOSINA, para ajudar na micção, o ato de urinar. Você melhora, realmente, contudo… não ejacula mais. Não sai nada!

Vou parar por aqui. É deprimente. Isso não é medicina. Isso não é saúde.

Essa história termina com uma situação cada vez mais comum: a DERROCADA EM BLOCO da sua saúde. Você está obeso, sem disposição, com sofrível ereção e memória e concentração deficientes. Diabético, hipertenso e com suspeita de câncer. Dentes: nem vou falar. O peso elevado arrebentou seu joelho (um doutor cogitou até colocar uma prótese). Surge na sua cabeça a ideia maluca de procurar um CIRURGIÃO BARIÁTRICO, para “reduzir seu estômago” e um PSICOTERAPEUTA para cuidar de seu juízo destrambelhado é aconselhado.

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Sem grana, triste, ansioso, deprimido, pensando em dar fim à sua minguada vida e… DOENTE, muito doente! Apesar dos “remédios” (ou por causa deles!!).

A indústria farmacêutica? “Vai bem, obrigado!”, mais ainda com sua valiosa contribuição por anos ou décadas. E o seu doutor? “Bem, obrigado!”, graças à sua doença (ou à doença plantada passo-a-passo em sua vida).

Dr. Carlos Bayma

 

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