Avó de Pabllo Vittar, Maria Alcina faz recorte pessoal de Caetano
Cantora usa o vozeirão e o tom debochado em faixas como 'A Voz do Morto', 'Os Mais Doces Bárbaros', 'Gênesis', 'Língua' e 'O Estrangeiro'
Quando Maria Alcina chamou a atenção do público e da crítica no Festival Internacional da Canção (FIC) de 1972, em que interpretou Fio Maravilha, de Jorge Ben, Pabllo Vittar, a drag queen do momento na música brasileira, nem sonhava em nascer. Pabllo tem 22 anos, contra 68 de Maria Alcina, que poderia ser considerada uma avó da maranhense. Do alto de seus 45 anos de carreira — o primeiro disco veio depois do estouro no FIC –, Alcina poderia ser um farol para as novas gerações, embora Pabllo tenha uma reconhecida luz própria. Mas ela tem o que ensinar. Lições de atitude, de empoderamento (para usar uma palavra cara aos novinhos) e de bom gosto. Em Espírito de Tudo, disco que lança agora, Maria Alcina faz uma seleção bastante pessoal da obra de Caetano Veloso. Em algumas faixas, poderia ter roubado mais a música para si, é verdade — Tropicália é tão fiel à versão original que conta até com a narrativa sobre a carta de Pero Vaz de Caminha no início. Mas ao longo de todo o disco não deixa de usar o vozeirão e o tom debochado para percorrer décadas de criação de Caetano, através de faixas como A Voz do Morto, Os Mais Doces Bárbaros, Gênesis, Língua, O Estrangeiro, Fora da Ordem, e a mais recente A Cor Amarela.