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Livro ‘Primavera nos Dentes’ destrincha o fenômeno Secos & Molhados

Obra de Miguel de Almeida conta o sucesso improvável de João Ricardo, Ney Matogrosso e Gerson Conrad e de sua dissolução, que ainda deixa marcas profundas

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 17 out 2019, 17h16 - Publicado em 17 out 2019, 16h52

Qual a melhor banda do rock nacional? Os Mutantes, por causa da sua mistura de rock, psicodelia e experimentações? Os Novos Baianos, por conta do originalíssimo cruzamento de MPB e rock? Titãs, o melhor exemplo do caldeirão de sons que tomou de assalto a cena musical brasileira na década de 80? Hoje eu não me preocupo mais com competições dessa categoria. Mas por um bom tempo, acreditei que nada superaria os Secos & Molhados em talento, criatividade e popularidade. Entre 1973 e 1974, o trio formado pelos vocalistas Ney Matogrosso, João Ricardo e Gerson Conrad se tornou um fenômeno popular, superando até Roberto Carlos em vendas de discos. Se por um lado desafiaram um país sob a ditadura militar com doses generosas de androginia e letras com mensagens subliminares sobre a situação dominante, por outro caíram no gosto do público infantil por causa das pinturas no rosto e o rebolado lascivo de Matogrosso (e não era à toa que eu tinha um pôster do trio pendurado na sala da minha casa). Era de se espantar que um fenômeno desse naipe nunca tivesse ganho uma biografia à altura de sua importância. Pois Primavera nos Dentes: a História do Secos & Molhados, de Miguel de Almeida (editora Três Estrelas; 376 páginas; 69,90 reais).

(Divulgação/Divulgação)

Secos & Molhados nasceu de uma ideia de João Ricardo. Filho do jornalista e poeta português João Apolinario (1924-1988), ele se uniu ao vizinho de prédio Gerson Conrad para criar um grupo que tinha como influências principais os Beatles e Crosby, Stills & Nash. O grupo teria algumas formações, mas se estabeleceria com a entrada do vocalista Ney de Souza Pereira, o Neyzinho, que mais tarde seria batizada como Ney Matogrosso. Ex-enfermeiro e um hippie tardio, ele é quem daria personalidade ao trio. O curioso é que as pinturas e – acima de tudo – o rebolado do vocalista não eram bem vistos pela dupla e por seu empresário, o jornalista Moracy do Val. Primavera narra um encontro do quarteto numa cantina do Bixiga, centro de São Paulo, onde Matogrosso é aconselhado a “maneirar” na dança. Um dos trunfos do livro de Miguel de Almeida é estender os louros do sucesso do grupo para a banda que os acompanhava – que tinha, entre outros, Willy Verdaguer, ex-baixista dos Beat Boys, banda que acompanhou Caetano Veloso em Alegria Alegria. Foi ele o responsável pelo baixo gordo de Sangue Latino, faixa de abertura do álbum.

Secos & Molhados eram vistos com desconfiança, tanto pela banda de apoio (que preferiu cachê a dividir os lucros das apresentações) quanto pela gravadora. A Continental prensou poucas cópias do álbum de estreia do trio, pensando que trataria de um lançamento menor. Depois, acuada pela crise do petróleo (matéria-prima para as bolachas em vinil), passou a derreter os LPs de duplas caipiras para dar a vazão aos inúmeros pedidos nas lojas. É um disco clássico, repleto de hits como O Vira, Rosa de Hiroshima (um poema de Vinicius de Moraes musicado por Conrad), Mulher Barrigada… O sucesso, porém trouxe dissabores. Os Secos & Molhados enfrentaram a censura, que implicava com o rebolado de Matogrosso, e a truculência da Polícia Militar. Almeida narra um confronto entre o cantor e os oficiais no Maracãnazinho, em 1973, porque esses não queriam que o público adentrasse um determinado espaço do ginásio. Ney ficou parado e sem abrir a boca até que eles parassem de maltratar a multidão.

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Os motivos do fim do Secos & Molhados, pouco antes do lançamento do segundo álbum do trio, são controversos. Almeida prefere dar voz às duas versões. Conrad e Matogrosso acusam João Apolinário, pai de Ricardo, de querer transformá-los em meros funcionários – receberiam um fixo sobre o cachê das apresentações. Para João Ricardo, tudo não passou de um mal entendido. O imbróglio ainda deixa marcas profundas nos três integrantes. Tanto que Conrad e Matogrosso nunca mais tiveram contato com João Ricardo. Em 1974, o Jornal da Tarde, para a surpresa de Ricardo, trouxe uma entrevista de Ney anunciando o fim do grupo. O vocalista se tornou um dos maiores astros da MPB, João Ricardo tentou a carreira solo e posteriormente criou novas formações para os Secos & Molhados e Conrad retomou a carreira musical no ano passado. Com exceção de um ou outro trabalho solo de Ney, nenhum dos três chegou perto da explosão criativa do primeiro disco do trio. Uma história obrigatória para se entender um dos maiores fenômenos da música nacional.

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