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‘Não quero me tornar comediante da extrema-direita’, diz Rafael Saraiva

Em entrevista a VEJA, ator, que desponta no Porta dos Fundos e na novela ‘No rancho fundo’, defende humor ácido que fuja do politicamente incorreto

Por Mafê Firpo 27 jun 2024, 07h00

Integrante do Porta dos Fundos, Rafael Saraiva, 23 anos, que também dá vida ao poeta Guilherme Tell na novela No Rancho Fundo, da TV Globo, recentemente viralizou na internet pelos seus quadros de humor. Dentre os vários personagens, o carioca ficou conhecido por dar vida ao Cria do Leblon, playboy que finge passar por dificuldades e reclama da mesada dos pais. Para a coluna GENTE, Saraiva conta sobre a criação do personagem, que em sua visão, é uma nova forma de fazer sátira.

Recentemente você viralizou nas redes sociais pelo seu quadro “Cria do Leblon”. O que é um cria? O cria é aquele playboy zoeiro com um comportamento constrangedor, porque tenta fingir que tem pouco dinheiro, mas na verdade é rico. Ele reclama da mesada alta dos pais, fala que a polícia é amiga e canta rap. E o quadro é exatamente uma sátira com quem finge passar por alguma dificuldade e romantiza a vida. Essa é a piada, uma pessoa que reclama ou quer criar caos onde não existe.

E por que ironizar esse grupo? Existe uma falsa ideia de que a dificuldade ou as questões sociais afetam todo mundo, e isso não é verdade. Quando você se comporta de um jeito irreal e banal, enfraquece determinados assuntos que podem ser levados com mais profundidade. Não acho que façam por maldade, eu próprio sou um playboy, mas sou aquele mais leite com pera criado pela avó. Mas o Cria é um personagem de humor que não tem intenção de provocar mudança, só brincar de maneira ácida.

Acredita que o humor deve ser politicamente correto? Acho esse termo politicamente correto estranho, mas não tenho objetivo de criar conscientização com o humor. Faço parte de uma geração de comediantes que tem um novo entendimento da comédia. A política e o humor têm que ser contemporâneos. Não acredito no humor que ofenda e não gosto de bater naqueles que a vida já bate, a vida já é cruel demais com determinados grupos. Dá para brincar com todo assunto, mas não ofender. Isso é diferente de certos comediantes da extrema-direita, que eu não gostaria de me tornar.

Como esses comediantes extrapolam os limites do humor? O limite do humor é a lei. Essas piadas corroboram com uma sociedade racista, machista, transfóbica. Não vejo nada de diferente que essa galera fala sobre estar “resistindo com o humor”, não acho nada engraçado.

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Nas redes sociais, já brincou com seguidores que pediam para você “nunca se tratar”. Em resposta, disse que vai ao psiquiatra há 12 anos. Luta com questões de saúde mental? Sim, hoje em dia quem não luta? Aos 11 anos fui diagnosticado com síndrome do pânico e ansiedade. É uma sensação de achar que está morrendo, muito nervoso, tinha acabado de perder meu padrasto, foi um ano intenso. Hoje faço trabalho de prevenção, as pessoas têm a ideia errada de que quem vai ao psiquiatra está sofrendo. Mas tenho dimensão que vivemos em um mundo com nuances e dores singulares.

Não tem medo de ser julgado? Faz parte de minha luta falar abertamente para que não se julgue os outros por saúde mental. Nunca tive vergonha, nem na escola, na verdade achava divertido, diferente. Eu já era considerado maluco, me chamam de maluco até hoje e na verdade eu sou; Quem não é?

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