Ariani Castelo, 25 anos, se tornou uma das escritoras best-sellers da Amazon com seu livro O Abismo de Celina (ed. Rocco), que narra a história de uma jovem que precisa encarar seus maiores medos para triunfar perante a morte. A escritora, que foi recentemente convidada para participar da Bienal de São Paulo, vendeu mais livros do que clássicos brasileiros, como os de Clarice Lispector – foi o quarto mais vendido. Formada em Letras na UFRJ, Ariani começou a carreira como criadora de conteúdo na internet com o blog Sentimento do Leitor, onde fazia indicações de obras e resenhas literárias. Em sociedades que lê cada vez menos livros, a romancista entende que a leitura forma o pensamento crítico do indivíduo. A seguir, o bate-papo com a coluna GENTE.
Como foi sua trajetória até se tornar autora? Comecei escrevendo com uns 12 anos, postava histórias em alguns sites com pseudônimos. Recebia as primeiras impressões de leitores e a galera comentava. Eu já ficava “uau, alguém gostou, vou continuar”. Mas com o passar do tempo escolhi outros caminhos. Foi só durante a faculdade de letras na UFRJ que fui colocando na minha cabeça que queria seguir na escrita. Aí O Abismo de Celina veio na minha cabeça.
Seu livro vendeu mais que as obras da Clarice Lispector na Bienal. Por que acha que conseguiu tal feito? Nem eu sei, sinceramente. Acredito que foi, para mim, surpreendente na Bienal ver O Abismo de Selina passando autores de mais renome e de muito mais legado. Muita gente gosta da possibilidade de o autor estar na Bienal e pegar autógrafo, conhecer a pessoa que criou aquela história e conversar. A gente faz muitos vídeos, está sempre divulgando a história da melhor maneira que a gente encontra.
Seu livro atrai um público jovem que talvez não se interesse por clássicos. Por que estão perdendo o gosto por estas obras? Pelo menos na Faculdade de Letras, a gente sempre gostou de pensar que existe espaço para todo tipo de livro: tanto para os clássicos, que têm um papel fundamental na formação do indivíduo, quanto para os que trazem outras perspectivas. Mas é aquela questão do escapismo, que muitas vezes os clássicos se prendem mais à realidade, tanto que se costuma dizer que um clássico é reflexo do seu tempo.
E por que as pessoas procuram fugir da realidade? Os livros podem ser um espaço seguro, um espaço de relaxamento, um abraço entre você e os personagens que quer acompanhar. O livro possui o poder de, por alguns momentos, colocar a sua atenção em um outro lugar te dando um descanso da realidade. Na fantasia tudo é mais intenso. Pensando em O Abismo de Celina, a gente vê discussões sobre depressão, complexidades no relacionamento humano… Isso aparece de uma maneira mais intensa do que veria no mundo real, porque adquire contornos fantásticos muito mais evidentes ao leitor.
Qual sua opinião sobre os influenciadores literários? Os influencers têm um papel fundamental. Acredito que a questão da divulgação é interessante, os influenciadores moveram o mercado editorial. Durante a pandemia, com essas redes, houve um boom absurdo de vendas. Se tem um livro ali que bomba, você consegue adicionar novas vozes, novas perspectivas.
A geração atual está cada vez menos interessada na leitura, a média brasileira é de um livro ao ano. A fórmula passa pelas redes sociais? Acho isso extremamente preocupante. Não só em nível cultural, mas em nível social também. A gente precisa sempre pensar o porquê, será que é o valor do livro? Livro não é uma coisa barata, de fácil acesso. É preocupante porque denuncia que, na realidade, muita gente não tem dinheiro necessário para embarcar nesse hábito. O hábito da leitura acaba, muitas vezes, em segundo plano. Hoje mesmo com o mundo digital, muitas vezes é difícil parar e pegar um livro, porque tem muita coisa competindo pela atenção.
Os Estados Unidos estão passando por uma grande onda de censura de livros. Como escritora, que sentimento isso te traz? É um absurdo, é como censurar o conhecimento, o ato de pensar. A partir do momento que começam a fazer uma censura de um livro por questões ideológicas, impede-se outras pessoas de refletirem sobre aquele material por conta de uma perspectiva única. Você está manipulando a história, porque está impedindo que tenham acesso a algo que poderia acrescentar na visão delas.