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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Se Bolsonaro perdeu, o centrão ganhou

Para todo presidente enfraquecido existe um bancada de apoio mais cara

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 16 nov 2020, 14h40
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  • Imagine por um momento a situação hoje de um deputado do centrão, que entrou agora na base de apoio do governo Bolsonaro e assistiu no domingo o dedo podre presidente. Os candidatos que ele apoiou para prefeito de São Paulo, Recife, Manaus e Belo Horizonte tiveram resultados vergonhosos. Até para vereador, Bolsonaro foi um péssimo cabo-eleitoral. Dos 45 candidatos que ele citou nas suas lives pelo Facebook, só 7 se elegeram.

    Neste primeiro turno, o deputado do centrão descobriu que está apoiando um presidente que ainda é popular, mas que não consegue transferir votos para ninguém, nem para a famosa Wal do Açaí, a servidora fantasma que cuidava da casa dos Bolsonaros em Angra dos Reis. Ela teve autorização para usar o sobrenome Bolsonaro na campanha e só recebeu 266 votos. A única pergunta que corre a cabeça do deputado do centrão é: “como fica a minha reeleição em 2022 se eu continuar apoiando um governo que não ajuda com votos?”

    Essa pergunta gera duas possibilidades: a primeira é o deputado se afastar do governo. Mas, você sabe como são os deputados do centrão, eles são magnetizados pelas emendas parlamentares, pela indicação de cargos e pelos gabinetes ministeriais. É difícil para essa turma ficar longe do poder. Daí vem a segunda opção, cobrar mais caro para seguir apoiando Bolsonaro. É pule de dez que a maioria do centrão vai escolher a segunda opção.

    Eleições municipais antecipam pouco o resultado da eleição para presidente. O PSDB perdeu a prefeitura de São Paulo quando FHC estava na presidência e ganhou quando Lula estava no Planalto. Em 2016, o filho mais velho de Bolsonaro, Flavio Bolsonaro, teve míseros 12% de votos para prefeito da cidade do Rio, cidade que dois anos depois entregou 60% dos votos para o atual presidente.

    O que as eleições municipais mudam com certeza é o humor no Congresso. Para todo presidente enfraquecido existe um bancada de apoio mais cara. Diante de um FHC incapaz de levar seu candidato ao segundo turno em São Paulo, os deputados cobraram mais pela emenda da reeleição, com casos comprovados de compra de votos. O desempenho ruim de 2004 fez Lula aprofundar a relação com o varejo da Câmara, no que ficou conhecido como o escândalo do mensalão. Não há nenhuma regra afirmando que todo presidente ferido pelas urnas use esquemas heterodoxos para obter apoio no Congresso, mas é fato que os deputados, assim como os tubarões, sentem cheiro de sangue na água.

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