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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Na guerra das vacinas, Bolsonaro contraiu um vírus: o da inveja 

Para prejudicar Doria, presidente obriga Ministério da Saúde a recuar na compra de vacinas

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 nov 2020, 12h16 - Publicado em 21 out 2020, 15h56
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  • O presidente Jair Bolsonaro está infectado com um vírus, o da inveja. Ele decretou hoje que seu governo não irá comprar as vacinas contra Covid-19 desenvolvidas em conjunto entre a farmacêutica chinesa Sinovac e Instituto Butantan, do governo de São Paulo, com medo de que a imunização ajude as pretensões eleitorais do governador João Doria.

    O presidente obrigou o Ministério da Saúde a cancelar a promessa de compra de 46 milhões de doses da futura vacina, caso seja aprovada nos testes clínicos da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Com a decisão, há um risco de a vacina ser disponível apenas para os moradores do Estado de São Paulo. O Brasil é o terceiro país no mundo em número de mortes de Covid-19, com 5,2 milhões de infectados, e o segundo em número de mortes, com 155 mil óbitos.

    Em encontro virtual com governadores, o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, havia dito ontem que o produto em teste no Butatan será  “a vacina brasileira”, uma forma de combater a xenofobia anti-China dos bolsonaristas. “O Butantan já é o grande fabricante de vacinas para o Ministério da Saúde, produz 75% das vacinas que nós compramos”, ressaltou o ministro.

    Deu errado. No Twitter, o presidente se referiu ao antiviral como “vacina chinesa de João Doria” e depois, em entrevista, chamou o produto de “vachina”, como gostam de dizer os bolsonaristas. “Nada será despendido agora com uma vacina chinesa que eu desconheço. Toda e qualquer vacina está descartada por enquanto. A vacina precisa de comprovação científica para ser usada”, disse o presidente. 

    É irônico, pois foi o próprio Bolsonaro quem defendeu publicamente o uso da hidroxicloroquina,  remédio sem comprovação científica no tratamento à Covid-19. “Ainda não existe comprovação científica, mas [a droga está] sendo monitorada e usada no Brasil e no mundo. Contudo, estamos em guerra: ‘Pior do que ser derrotado é a vergonha de não ter lutado.’”, escreveu Bolsonaro no Twitter, em maio.

    Jair Bolsonaro contraiu coronavírus em julho e passou três semanas na sua residência oficial, o Palácio do Alvorada, com quatro equipes de médicos se revezando 24 horas para monitor seus batimentos cardíacos, temperatura e pressão. A segurança montou um cenário no qual o presidente poderia ser levado em seis minutos até o Hospital de Base de Brasília ou, numa emergência maior, em dez minutos de helicóptero até a Base Aérea e, de lá, em uma hora e 29 minutos até São Paulo. A mulher do presidente, Michelle, e os filhos Eduardo e Jair Renan também foram contaminados e tiveram acompanhamento médico especial. 

    Como até hoje são raríssimos os casos de reinfecção, é compreensível que Bolsonaro se considere livre do coronavírus. Por isso, ele não se importa com os milhões de brasileiros que poderiam ser beneficiados com uma vacina, caso aprovada nos testes científicos. Só lhe interessa a eleição e a destruição dos eventuais adversários.

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