Bolsonaro organiza o antipetismo e avança no Triângulo das Bermudas
Sem Moro na disputa, presidente reduz vantagem em SP e MG e empata no Rio, diz pesquisa Genial/Quaest
No período de dois meses, a campanha de Lula assistiu sem reação ao avanço do presidente Jair Bolsonaro sobre os três maiores colégios eleitorais do Brasil, os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Neste último, Bolsonaro cresceu 4 pontos porcentuais e agora empata com Lula no primeiro turno. Os três estados concentram 40% dos votos do Brasil. Compare os dados das pesquisas estaduais da Genial/Quaest:
São Paulo
Lula 39% (igual em relação a março)
Bolsonaro 28% (+ 3 pontos porcentuais)
Rio de Janeiro
Lula 35% (-4)
Bolsonaro 35% (+4)
Minas Gerais
Lula 44% (-2)
Bolsonaro 28% (+7)
“Esses números mostram uma reacomodação dos eleitores de Sergio Moro e dos desesperançados com as chances da terceira via em favor do Bolsonaro. São eleitores que votaram em Bolsonaro em 2018, se desgostaram com o seu governo, mas agora retornam por não enxergarem outra possibilidade de impedir a volta do PT”, diz Felipe Nunes, diretor da Quaest.
A reorganização do antipetismo no Sudeste assustou o PT. Logo depois do anúncio, o deputado Reginaldo Lopes renunciou à sua candidatura ao Senado por Minas e o PT fechou acordo para apoiar os candidatos do PSD – o ex-prefeito Alexandre Kalil para governador e a reeleição do senador Alexandre Silveira.
No Rio, o secretário de comunicação do PT, deputado Jilmar Tatto, afirmou que o problema era o apoio à candidatura a governador de Marcelo Freixo, do PSB. Deputado símbolo da defesa dos direitos de minorias e da investigação contra milícias, Freixo traria “estreiteza à campanha Lula”, na avaliação de Tatto. A estocada é inútil: o PT é raquítico no Rio e não tem opção viável a Freixo. O PT reclama, na realidade, de que o PSB de Freixo insiste na candidatura de Alexandre Molon a senador (que tem 10% na pesquisa Genial/Quaest, em terceiro lugar), e não na do deputado estadual petista André Ceciliano, com míseros 2% no levantamento.
O que o PT desconsidera no Rio é que o estado é a base do bolsonarismo. O presidente teve 59,79% dos votos no Rio de Janeiro no primeiro turno em 2018 e elegeu o governador e os dois senadores.
Em São Paulo, ao contrário, a novidade é a vantagem de Lula. Desde 1989, o PT só venceu em 2002. Em 2014 e 2018, perdeu no segundo turno numa proporção de 7 a 3. A possibilidade de Lula vencer no estado de São Paulo, que concentra 22% dos eleitores, pode decidir a eleição nacional.
Com a vantagem de Lula e do candidato petista Fernando Haddad na pesquisa, Lula pessoalmente trabalha para convencer o ex-governador Márcio França a apoiar o PT e ser candidato a senador.
Há uma característica que une Lula e Bolsonaro nos três estados: eles terão de levantar os candidatos a governador, e não o contrário. E todos os índices de Bolsonaro e Lula são maiores que os de seus candidatos a governador. Por isso é tão importante para Haddad, Freixo e Kalil se aproximarem de Lula, enquanto Bolsonaro vai precisar levantar os índices de Tarcísio de Freitas (SP), Claudio Castro (RJ) e Carlos Viana (MG). Dificilmente essa tendência vai mudar até outubro.