Sucesso nos anos 90, Rachael Leigh é o tempero secreto de ‘Amor Garantido’
Atriz que alcançou a fama com a comédia romântica ‘Ela É Demais’ volta ao gênero com um empurrão da Netflix, que ressuscitou o filão
Há uma antiga tradição do romance que se repete costumeiramente na ficção. Trata-se da moça aparentemente feia e sem modos que, a partir da ação de outro personagem, se transforma em uma belíssima dama. A história que bebe da peça Pigmaleão, do autor George Bernard Shaw, em 1913, até hoje ecoa em filmes e novelas. Um exemplo pop que ganhou status de clássico é o longa teen americano Ela É Demais, de 1999. Nele, a jovem atriz Rachael Leigh Cook é a mocinha que passa por um banho de loja antes de conquistar o amor – a cereja do bolo.
O filme teve um forte impacto cultural na época, alçando Rachael e seu par romântico, Freddie Prinze Jr., ao posto de “queridinhos” do filão, além de colocar a canção Kiss Me, da banda Sixpence None the Richer, parte da trilha sonora, nas paradas musicais. Corta para 2020. O bonitão Prinze Jr. é um quase desconhecido, que dubla personagens de Star Wars, enquanto Rachael foi jogada para o posto de coadjuvante em filmes bocós, até se tornar voz de personagens de videogame.
Esta semana, a atriz conseguiu sair do ostracismo ao estrelar e produzir o filme Amor Garantido, da Netflix, que tomou para si o primeiro lugar no ranking de produções mais populares da plataforma.
A ascensão, queda e retorno triunfal de Rachael diz muito sobre o próprio gênero da comédia romântica. Antes uma aposta fácil dos estúdios para atrair boas bilheterias, o filão morreu nas telas dos cinemas, hoje tomadas por arrasa-quarteirões de super-heróis. Até que a Netflix percebeu o apelo que o gênero tem com seus assinantes. Assim, a plataforma de streaming ressuscitou os filmes ditos “mamão com açúcar”, com tramas simples, românticas e divertidas, típicas de uma Sessão da Tarde. Para tornar o movimento ainda mais apetitoso e nostálgico aos antigos fãs de produções do tipo, o canal trouxe de volta uma das estrelas do gênero.
Agora aos 40 anos de idade, Rachael Leigh Cook ainda preserva a feição angelical, mas o olhar desafiador da maturidade fica distante do estereótipo da mocinha ingênua que conquistou o público há duas décadas. Na trama, ela é uma advogada solitária que está à beira da falência por pegar tantos casos de graça. A personagem aparentemente sem sal, no fundo, é adorável e conquista facilmente o espectador – e, claro, o mocinho com potencial para par romântico. No caso, entra em cena Nick Evans (Damon Wayans Jr.), um charmoso fisioterapeuta que busca a advogada para processar o fictício site de relacionamento que dá nome ao filme. Segundo ele, o Amor Garantido faz propaganda enganosa, já que após 1.000 encontros, como propõe a plataforma, o amor ainda não foi encontrado.
Não é necessário um grande esforço para imaginar o fim do filme. E tudo bem. O que importa nas comédias românticas é a jornada dos personagens e o processo que leva ao final feliz, mas especialmente o carisma dos atores e a química entre o casal, atributos que a dupla esbanja. Com essa guinada na carreira, a torcida é que Rachael se mantenha por mais tempo sob os holofotes – e continue a sugerir que o amor e a felicidade estão por aí, ao alcance de todos: desde as mocinhas e mocinhos desajeitados aos adultos solitários em aplicativos do século XXI.