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Séries como ‘WeCrashed’ desconstroem o mito dos unicórnios da inovação

Lançamento da Apple mostra como a ambição desmedida maculou algumas das grandes empresas do ramo

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 20 mar 2022, 08h00

Em mais um dia típico do israelense Adam Neumann (Jared Leto) e de sua esposa, Rebekah (Anne Hathaway), o casal recebe em seu luxuoso apartamento em Manhattan um especialista em feng shui, com o intuito de melhorar o fluxo de energia da casa. Depois, quando seguem para o escritório, o marido sai pela rua descalço, de ressaca. Descolados da realidade, os dois ignoram que Neumann estampa naquele dia a capa do The Wall Street Journal. A reportagem de 2019 denunciava práticas antiéticas do empresário e a toxicidade do ambiente na empresa que criou, a WeWork — àquela altura tão insalubre que nem feng shui daria jeito. Surgida em 2010, a startup de coworking prometia oferecer ambientes de trabalho aliados à diversão, com direito a shots de tequila no expediente. Por trás disso, porém, havia um pecado financeiro ardiloso: Neumann alugava imóveis próprios superfaturados para a empresa que ele mesmo presidia. A exposição desse e de outros podres, como o gosto do empreendedor por drogas e festas, o derrubaria do posto de CEO da companhia — ponto de partida de WeCrashed, nova minissérie da Apple TV+, que disseca esse escândalo real da chamada “nova economia”.

The Cult of We

O título — extraído do podcast em que o programa se baseia — é insuficiente para descrever Adam Neumann. Sedutor e insistente, ele penou até ser levado a sério por investidores. Quando conseguiu, ascendeu rápido no exclusivo mundo dos unicórnios — nome dado às startups avaliadas em 1 bilhão de dólares. A WeWork chegou a ser o segundo unicórnio mais bem-sucedido do mundo, ao atingir 47 bilhões de dólares em valor de mercado, atrás apenas da Uber. O crescimento da empresa era diretamente proporcional à megalomania de Neumann: ele dizia que seria o primeiro trilionário da história, que viveria para sempre e que se tornaria “presidente do mundo”. Conhecendo bem o chefe, os funcionários não encaravam as falas como piadas: Neumann representava com vigor, para o bem e para o mal, o tipo ambicioso que proliferou nas últimas duas décadas no Vale do Silício. Visionários ou charlatões, esses jovens empreendedores — Neumann tem hoje 42 anos — se tornaram objeto de estudo de séries que vão além da superfície sedutora de poder e dinheiro. “Somos atraídos por pessoas carismáticas e que sabem influenciar, características que ficaram ainda mais potentes num mundo tão conectado”, disse Anne Hathaway a VEJA.

FRAUDE - Amanda Seyfried em The Dropout: promessas nunca cumpridas -
FRAUDE - Amanda Seyfried em The Dropout: promessas nunca cumpridas – (Beth Dubber/HULU/.)

A Guerra Pela Uber

O fascínio e a euforia iniciais em torno dos unicórnios deram lugar, recentemente, a receios e investigações. Constatou-se o óbvio: ninguém se torna bilionário do dia para a noite sem burlar um tanto de regras — e muitas delas existem para proteger funcionários e usuários. Duas produções deste ano atestam esse fato: The Dropout, no Star+, com Amanda Seyfried na pele da empresária Elizabeth Holmes, e Super Pumped, na Paramount+, com Joseph Gordon-Levitt vivendo Travis Kalanick, criador da Uber. Elizabeth arrebanhou investimentos para uma máquina que prometia diagnósticos de saúde rápidos e certeiros — ideia que nunca vingou, mas chegou a valer 9 bilhões de dólares, graças ao discurso magnético da jovem brilhante. Como Neumann, Kalanick também foi afastado do posto de CEO da própria empresa por seu comportamento errático, que ia da espionagem de usuários da Uber até conivência com exploração abusiva do trabalho e assé­dio sexual. Ao contrário de Elizabeth, condenada por fraude e que poderá pegar até oitenta anos de prisão (ela tem 38), os dois saíram ilesos e amparados por acordos bilionários.

Embora criada em Nova York — bem longe do Vale do Silício, portanto —, a WeWork seguiu com esmero a cartilha de sedução das big techs. Neumann é um produto acabado do lema “fake till you make it” (“finja até virar verdade”, em português), tão em voga no meio: com discurso que aliava superação e inovação, enganou investidores e prometeu o que não podia cumprir. Nem tudo que reluz é ouro.

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Publicado em VEJA de 23 de março de 2022, edição nº 2781

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The Cult of We
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A Guerra Pela Uber
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