Vergonha da Copa: só sente quem tem
Protesto no estádio Castelão durante a Copa das Confederações (Ivan Pacheco) “Vergonha” é a resposta de 55% dos brasileiros diante da seguinte pergunta: “O que você sente quando pensa na realização da Copa do Mundo no Brasil?”. Foi o que apurou a pesquisa realizada por VEJA entre 17 e 19 de fevereiro, ouvindo 4.381 pessoas […]
“Vergonha” é a resposta de 55% dos brasileiros diante da seguinte pergunta: “O que você sente quando pensa na realização da Copa do Mundo no Brasil?”. Foi o que apurou a pesquisa realizada por VEJA entre 17 e 19 de fevereiro, ouvindo 4.381 pessoas de todas as regiões do país (leia os resultados completos aqui).
É curiosa a história da palavra que está na cabeça da maioria da população diante da inépcia demonstrada por seus representantes nos preparativos do grande evento esportivo. Sinônimo – na acepção que vem ao caso aqui – de “desonra, humilhação, opróbrio, sentimento penoso causado pela indignidade”, vergonha é um vocábulo do século XIII, descendente do latim verecundia.
O mesmo termo latino deu no espanhol verguenza, que tem sonoridade similar ao vergonça do português arcaico – na feição moderna da palavra parece haver uma influência do francês ou do provençal. Ocorre que verecundia, substantivo do latim clássico derivado do verbo vereri, “temer, respeitar”, não tinha o sentido de opróbrio e humilhação, e sim o de “pudor, recato, decoro, dignidade”. Era uma qualidade moral, uma palavra carregada de conotações positivas.
Sim, vergonha ainda tem tal acepção entre nós, bem como uma outra, vizinha dela, de insegurança ou timidez provocada pelo medo do ridículo. Sua acepção principal nos dicionários de português, porém, é mesmo a de desonra, humilhação.
É fácil compreender o caminho de expansão semântica que levou de uma acepção à outra. Só sente vergonha (opróbrio, dor moral provocada por uma indignidade) quem tem vergonha (pudor, decoro, dignidade), algo que também é conhecido popularmente como “vergonha na cara”. Os sem-vergonha são imunes.