Por que ‘levar a breca’ não tem crase?
“Oi Sérgio. Se é ‘levado da breca’, por que os dicionários não usam crase na expressão ‘levar a breca’, se breca é palavra feminina?” (Rosélio da Costa Silva) O substantivo “breca”, de uso raro hoje em dia, é mesmo feminino, mas não há crase na locução “levar a breca” por uma razão simples: a palavra […]
“Oi Sérgio. Se é ‘levado da breca’, por que os dicionários não usam crase na expressão ‘levar a breca’, se breca é palavra feminina?” (Rosélio da Costa Silva)
O substantivo “breca”, de uso raro hoje em dia, é mesmo feminino, mas não há crase na locução “levar a breca” por uma razão simples: a palavra é objeto direto do verbo levar.
“Levar a breca” é uma expressão muito semelhante – no sentido e no aspecto formal – a “levar a pior”. Se não dizemos, sobre alguém que sofreu um infortúnio, que “fulano levou ao pior”, não faria sentido dizermos que ele “levou à breca”. (Vale ressaltar que esta expressão é um pouco mais enfática do que a outra, assumindo frequentemente o sentido de “morrer”.)
A origem da palavra “breca” é obscura, segundo o Houaiss, mas seus sentidos, todos negativos, são claros: basicamente fúria, aborrecimento, maldade e cãibra. O filólogo Antenor Nascentes atribui à acepção de contração muscular as diversas locuções em que a palavra aparece, mas reconheça-se que os outros sentidos parecem mais condizentes com elas.
Essas locuções são de uso menos raro do que o substantivo isolado, mas também soam um tanto antiquadas. Além de “levar a breca”, as mais comuns no Brasil são (ou foram um dia) “com a breca!”, uma interjeição de descontentamento, e principalmente “levado da breca”, que quer dizer endiabrado, muito travesso.
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