O adeus de Bento XVI: mas será o Benedito?
O último aceno do papa (foto de Tony Gentile/Reuters) Em 2005, quando o cardeal Ratzinger – que abandonou o papado esta semana – começava sua carreira como Pontífice, houve um momento inicial de confusão na imprensa brasileira. O novo papa chegou a ser chamado aqui e ali de Benedito XVI, numa tradução apressada dos despachos […]
Em 2005, quando o cardeal Ratzinger – que abandonou o papado esta semana – começava sua carreira como Pontífice, houve um momento inicial de confusão na imprensa brasileira. O novo papa chegou a ser chamado aqui e ali de Benedito XVI, numa tradução apressada dos despachos das agências internacionais que o chamavam de Benedikt (em alemão), Benedicto (em espanhol), Benoît (em francês) e Benedict (em inglês) – e, claro, do próprio latim Benedictus (literalmente, “bendito, abençoado”).
Durou pouco o mal-entendido: logo o papa era Bento XVI para todo lado. Essa correção de rumo levou alguns críticos apressados da “grande mídia” a levantar denúncias de racismo. A tese era a de que eles se recusavam a chamar o papa de Benedito para não dar cartaz ao santo negro de mesmo nome.
Tratava-se de uma tolice. O santo que Ratzinger homenageou ao escolher seu nome papal sempre foi conhecido em português como Bento, e chamá-lo de Benedito seria uma imprecisão. Bento de Núrsia (480-547, aproximadamente) é um dos mais destacados santos católicos, fundador da Ordem Beneditina.
Benedito (1526-1589), por seu lado, é um santo humilde, analfabeto, descendente de escravos. Sua importância na hierarquia da Igreja é pequena, embora tenha prestígio popular no Brasil.
Se a imprensa, como se vê, está livre do pecado de racismo por traduzir Benedictus como Bento, é provável que não se possa dizer o mesmo do processo histórico que levou à consolidação em português de dois caminhos tradutórios para o mesmo nome latino: um “de rico”, Bento, e outro “de pobre”, Benedito.