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Por Sérgio Rodrigues
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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O ‘lugar ideológico’ do cronista

Em outra encarnação, fui responsável pelo consultório gramatical de um grande jornal. Dos três elementos da frase seguinte, dois podem ser lidos como prova eloquente de que não estou brincando tanto assim quando falo em “outra encarnação”: a coluna se chamava Língua Viva, o veículo era o “Jornal do Brasil” e as consultas dos leitores […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 01h10 - Publicado em 13 jun 2015, 12h58

Em outra encarnação, fui responsável pelo consultório gramatical de um grande jornal. Dos três elementos da frase seguinte, dois podem ser lidos como prova eloquente de que não estou brincando tanto assim quando falo em “outra encarnação”: a coluna se chamava Língua Viva, o veículo era o “Jornal do Brasil” e as consultas dos leitores chegavam tanto por carta quanto por email.

Mas não é da passagem do tempo que quero falar, e sim de um episódio ilustrativo que ocorreu nessa época. Como a Língua Viva era uma instituição jornalística carioca razoavelmente bem estabelecida (antes de mim, tivera como titular o professor de português Sérgio Nogueira Duarte), não cheguei a ficar surpreso quando, certo dia, recebi o telefonema de uma estudante do curso de Letras da Universidade Estadual do Rio de Janeiro que colecionava meus textos e tinha decidido centrar neles sua tese de mestrado.

Após aquele breve contato, não tive mais notícias da mestranda e esqueci o assunto. Foi por acaso que, alguns anos depois, já afastado da coluna e do jornal, esbarrei em algum corredor do grande hipermercado internético com a tese que ela havia defendido – com sucesso – diante da banca. Chamava-se “As vozes ditas e caladas na coluna Língua Viva – uma análise discursiva”.

Agora vem a parte ilustrativa. Em sua dissertação, a moça me tratava como uma espécie de esquizofrênico por tentar abordar as questões de língua com enfoque duplo, o da gramática tradicional e o da linguística moderna. Para todos os efeitos, era como se essa ambivalência fosse uma descoberta dela, como se eu a empregasse de forma inconsciente.

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De modo bastante deliberado, é o que tento fazer até hoje, como já perceberam os perspicazes leitores desta coluna. O tradicional enfoque normativo é útil para todo mundo que, inserido em sua dinâmica de trabalho ou estudo, precisa conhecer as velhas regras e dominar o discurso culto, sob pena de tirar notas baixas ou ser preterido na hora daquela promoção; o outro, que busca incorporar certos aspectos da linguística moderna, se dirige a quem, não contente em conhecer tais mandamentos e sabendo que eles não caíram do céu nem são eternos, está interessado em examinar inquisitivamente as engrenagens que os movem.

A princípio fiquei aborrecido ao constatar que, do ponto de vista acadêmico, comprometido com o segundo enfoque e apenas ele, esse difícil ecletismo era merecedor de condenação. “O autor insiste em não assumir seu lugar ideológico”, concluía o estudo. Depois, pensando bem, percebi que não poderia ter recebido elogio maior.

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