In medias res
– E agora? – E agora o quê? – O que nós fazemos? – Bom, não sei bem. Imagino que alguma coisa que o leitor só vá compreender algumas páginas adiante. Alguma coisa que por enquanto o mergulhe num estado de relativa confusão. – Confusão? E qual é a vantagem disso? – É uma velha […]
– E agora?
– E agora o quê?
– O que nós fazemos?
– Bom, não sei bem. Imagino que alguma coisa que o leitor só vá compreender algumas páginas adiante. Alguma coisa que por enquanto o mergulhe num estado de relativa confusão.
– Confusão? E qual é a vantagem disso?
– É uma velha técnica. Tão respeitável que tem até nome em latim, in medias res.
– Média o quê?
– Quer dizer “no meio das coisas”. Você joga o leitor no meio da história e ele tem que se virar para entender o que está acontecendo. Quem sou eu, quem é você. Qual é o conflito entre nós.
– Conflito? Há um conflito entre nós?
– Lógico. Sem conflito, não haveria história.
– Hmm, sei. E o leitor acha legal ficar confuso?
– Até certo ponto. Uma dose de confusão pode estimular a curiosidade dele, o espírito detetivesco. Se passar do ponto fica chato, claro.
– Quer dizer, em algum momento as coisas têm que começar a fazer sentido?
– Isso mesmo. Você não é tão burro quanto – AI! Por que você me bateu, cara?!
– Não sei bem, estou um pouco confuso. Deve ser o nosso conflito.
– Doeu, tá?
– Vamos de novo?