Último mês: Veja por apenas 4,00/mês
Imagem Blog

Sobre Palavras

Por Sérgio Rodrigues Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
Continua após publicidade

Era uma vez (ou eram uma vez?) três porquinhos…

“‘Era uma vez um príncipe encantado’, diz o conto de fadas. Nenhuma dúvida. Mas, pela gramática, se em vez de um só príncipe houver mais de um personagem, o verbo ‘ser’ não exige a concordância no plural? Como pode existir nos livros um início de história tal como ‘ERA uma vez três porquinhos’, ao invés […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 01h54 - Publicado em 12 mar 2015, 12h08

os_tr_s_porquinhos

“‘Era uma vez um príncipe encantado’, diz o conto de fadas. Nenhuma dúvida. Mas, pela gramática, se em vez de um só príncipe houver mais de um personagem, o verbo ‘ser’ não exige a concordância no plural? Como pode existir nos livros um início de história tal como ‘ERA uma vez três porquinhos’, ao invés de ‘ERAM uma vez três porquinhos’? Nunca entendi erro tão crasso ser tão tolerado, ensinando errado às crianças. O que o senhor opina?” (Consuelo Machado)

Trata-se de uma anomalia gramatical, sem dúvida, mas a expressão “era uma vez” é, por tradição, tratada como invariável. A frase “Era uma vez três porquinhos” está correta, portanto.

Consuelo tem razão quando imagina que o verbo ser – que nesse caso é intransitivo, com o sentido de “existir” – tem como sujeito “um príncipe encantado” ou “três porquinhos”, enquanto “uma vez” é locução adverbial. A construção poderia ser parafraseada assim: “Havia certa vez…”.

Ocorre que “era uma vez” tornou-se uma expressão cristalizada, vindo a dispensar a concordância. Longe de ser uma transgressão contemporânea, dessas que costumam ser atribuídas a uma suposta decadência da língua, tal irregularidade foi praticada alegremente por autores clássicos e sancionada por gramáticos conservadores. “Por tradição, mantém-se invariável esta expressão inicial de histórias”, anota Domingos Paschoal Cegalla.

Continua após a publicidade

Evanildo Bechara vai um pouco além e, citando o colega Adriano da Gama Kury, atribui a invariabilidade do verbo à “atração fortíssima que exerce o numeral uma da locução uma vez”. Eu acrescentaria, como hipótese, a possibilidade de uma influência do sinônimo “haver”, este sim um verbo invariável.

De todo modo, isso tem validade apenas quando a expressão que abre a narrativa é “era uma vez”. Histórias iniciadas pelo verbo “ser”, sem a locução adverbial “uma vez”, exigem a concordância normal com o sujeito: “Eram quarenta ladrões…”.

*

Envie sua dúvida sobre palavra, expressão, dito popular, gramática etc. Às segundas, quartas e quintas-feiras o colunista responde ao leitor na seção Consultório. E-mail: sobrepalavras@todoprosa.com.br

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

1 Mês por 4,00

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.