Aliança com Maluf? Melhor chamar de pacto
Lula aperta a mão de Maluf: qual é a palavra certa? (Brazil Photo Press/Folhapress) Quando a palavra aliança foi importada no século 15 do francês alliance, este era um termo de três séculos de idade que tinha sobretudo o sentido de união conjugal, casamento – um significado tão dominante que acabou por dar origem, por […]

Quando a palavra aliança foi importada no século 15 do francês alliance, este era um termo de três séculos de idade que tinha sobretudo o sentido de união conjugal, casamento – um significado tão dominante que acabou por dar origem, por metonímia, à acepção “anel que simboliza noivado ou casamento”. Só num segundo momento a palavra passou a ser empregada para designar casamentos simbólicos, de interesse político. Estes se davam a princípio apenas entre Estados soberanos e não era raro que envolvessem também casamentos literais.
Em última análise, o francês tinha ido buscar alliance no verbo latino alligare, com sua penca de sentidos que iam de “atar, ligar, enlaçar, unir” a “prender, imobilizar” e “obrigar, constranger”. Nenhuma surpresa nisso: todo mundo sabe – e se por juventude ou ingenuidade não sabe, vai acabar aprendendo – que o compromisso entre duas partes firmado em qualquer tipo de aliança, ainda que de bom grado e em clima de festa, envolve alguma medida de cerceamento da liberdade.
Uma particularidade interessante da palavra aliança é seu sentido teológico de “acordo entre Deus e os homens” – a Velha Aliança firmada com Adão e renovada com Noé e Moisés, a Nova Aliança estabelecida por meio da morte de Jesus Cristo, em correspondência direta com o Velho e o Novo Testamento.
De modo geral, religiosa ou não, a palavra aliança tende a se revestir de aspectos positivos. Para entendimentos eleitorais como o do PT de São Paulo com Paulo Maluf, seria mais apropriado usar o termo pacto. Do latim pactum, “acordo, contrato”, esta é uma palavra que a literatura consagrou para nomear negociações entre seres humanos e poderes bem distantes da esfera divina. No romance “Grande sertão: veredas”, de Guimarães Rosa, é em pacto que o sertanejo Riobaldo Tatarana fala quando, numa cena de beleza tão intensa quanto ambígua, acaba sem saber se vendeu ou não vendeu sua alma àquele que chama de “o Pé-Preto, o Canho, o Duba-Dubá, o Rapaz, o Tristonho, o Não-sei-que-diga, O-que-nunca-se-ri, o Sem-Gracejos”, entre outros nomes.
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