Os taxistas engomados de Haddad
Há algumas semanas, pesquisadores do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) entrevistaram o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. A conversa começou com uma pergunta softball do cientista político Eduardo Marques, da USP: “Vamos começar falando sobre mobilidade, e os avanços produzidos nessas áreas, que, a meu ver, concentram-se no binômio transportes-planejamento, com a implantação […]
Há algumas semanas, pesquisadores do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) entrevistaram o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. A conversa começou com uma pergunta softball do cientista político Eduardo Marques, da USP: “Vamos começar falando sobre mobilidade, e os avanços produzidos nessas áreas, que, a meu ver, concentram-se no binômio transportes-planejamento, com a implantação das faixas exclusivas, corredores, assim como a aprovação do novo plano diretor e de outras legislações associadas à regulamentação, além de mudanças na estrutura da própria administração para fazer frente aos desafios da regulação. (…)”
Desafios da regulação? Verdade. O prefeito tem ao menos um imenso desafio, compartilhado por outros prefeitos de capitais: equacionar os serviços do Uber com os taxistas “normais”.
Esse tema, ignorado na entrevista, está se mostrando cada vez mais bizarro. A novidade é que a prefeitura de São Paulo achou por bem elaborar um guia com “orientações sobre as condições de higiene, conforto e segurança no veículo táxi e as condutas e posturas exigidas da profissão”. Algumas das “orientações” podem ser punidas com multa. Nenhum taxista pode, por exemplo, trabalhar de short ou bermuda. Nem de camiseta.
Uma orientação – obviamente inconstitucional – que não resulta em multa é “evitar polêmicas que provoquem estresse no passageiro em virtude de: paixões esportivas, convicções partidárias, fé e cultos religiosos, opções de comportamento pessoal e não tratar de problemas particulares, nem da categoria”.
Ou seja: se um taxista quiser discutir questões da cidade comigo – e eventualmente falar (bem ou mal) do prefeito – ele só poderá fazê-lo fora do serviço, de acordo com a orientação da prefeitura.
Mas eu me estresso muito mais com o trânsito do que falando de política, querida prefeitura. Sobretudo quando semáforos não funcionam em dias chuvosos. Como anda essa licitação, hein? Está aí um outro desafio para o transporte que não entrou na pauta amigável dos pesquisadores do Cebrap.
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