O recado de Barra Torres aos bolsonaristas
O presidente da Anvisa lembrou aos partidários do presidente que o lema do grupo não é "Bolsonaro acima de tudo"
A carta-resposta-manifesto do diretor-presidente da Anvisa, almirante Barra Torres, coloca em seu lugar um presidente que tem gosto pela difamação e pelo ultraje. E mostra — mais uma vez — que Bolsonaro só é valente com quem abaixa a cabeça: quanto alguém reage, ele bate em retirada em silêncio.
Mas carta tem outros méritos.
Deixa claro para outros funcionários públicos que é possível e necessário resistir à intimidação presidencial — coisa particularmente importante para os colegas de farda do almirante, que Bolsonaro usa como massa de manobra para seus arroubos autoritários. (Registre-se a atitude positiva do comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira, que está tentando impor a disciplina no que se refere à vacinação da tropa.)
Em sua última frase — “rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada, muito pelo contrário —, o diretor da Anvisa dá um belo exemplo a todos os bolsonaristas, militares ou civis, servidores públicos ou não.
Barra Torres não foi nomeado para a Anvisa por seu currículo, mas por ser militar e simpático ao bolsonarismo, e, em pelo menos um momento (quando suspendeu os testes da Coronavac sem motivo razoável), deu a impressão de que permitiria que a Anvisa fosse usada como cavalo de batalha na guerra de Bolsonaro contra o governador João Doria. Mas, em vez de manter fidelidade canina ao presidente que o nomeou, o almirante preferiu ser fiel a seu espírito público e ao país — e cumprir com seu dever.
Roga-se aos demais bolsonaristas, parabolsonaristas e não-bolsonaristas-mas que se mirem no exemplo de Barra Torres e lembrem-se de que seu lema não é “Bolsonaro acima de tudo”.
É “Brasil acima de tudo”.