Lira, Pacheco e o Centrão ainda não entenderam
O presidente do Senado e o presidente da Câmara acreditam que é possível preservar a democracia sem desagradar o autocrata
“Eu fui eleito nesse sistema durante seis eleições e não posso dizer que esse sistema não funciona. O sistema é confiável.”, afirmou o presidente da Câmara Arthur Lira nesta terça-feira. Não mencionou Jair Bolsonaro.
“Não podemos admitir sequer uma bravata relacionada a fechamento do Supremo, a cancelamento de eleições, a volta da ditadura militar ou de atos institucionais”, afirmou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, no último domingo. Não mencionou Jair Bolsonaro.
As declarações de Lira e Pacheco vêm, como se diz em inglês, too little, too late. São insuficientes e tardias. Bolsonaro afirma todo dia que o sistema eleitoral não é confiável, mas Lira não ousa criticá-lo. Bolsonaro faz bravatas golpistas desde sempre, mas Pacheco não ousa criticá-lo.
Integrantes do PL se dizem constrangidos com a guerra que Bolsonaro move contra o TSE, informa a jornalista Malu Gaspar. Mas mantêm Bolsonaro como candidato a presidente, não ousam criticá-lo nem mesmo em off e se mostram dispostos a cumprir sua vontade de contratar uma empresa para auditar as eleições e hostilizar o TSE.
Enquanto isso, Bolsonaro não para de avançar no esforço de desmoralizar o processo eleitoral, com vistas a melar o resultado.
Lira, Pacheco e políticos do Centrão querem preservar a democracia, mas sem desagradar o autocrata. E sem abrir mão dos bilhões do orçamento secreto. E acham que vão conseguir fazer isso até 2027.
Era uma vez um lobo que convidou um grupo de cordeiros para jantar. Os cordeiros, que se achavam muito espertos, acreditaram que poderiam se empanturrar e depois levantar da mesa a tempo. Aceitaram o convite.
O final não é bonito.