Bolsonaro ganhou de novo
O método de Bolsonaro não é secreto. Mas nossos congressistas permitem que sempre dê certo
O método de Bolsonaro não é segredo para ninguém. Ele ataca a democracia, todo mundo reclama, ele recua (enquanto não reclamam, continua avançando). Quando recua, nunca volta ao ponto onde estava, fica sempre um pouco à frente. A democracia sempre sai pior do que estava.
Com o material gerado, ele incendeia as redes mostrando que é um herói na cruzada contra o que chama de “ditadura do Judiciário”. O que ajuda no processo de desmonte das instituições.
Esta semana não foi diferente.
Bolsonaro baixou um decreto inegavelmente inconstitucional. Foi um ataque violento e frontal ao STF, única instituição que ainda defende a democracia no país. Em vez de apoiar o Supremo, o presidente da Câmara, Arthur Lira, preferiu submergir no silêncio. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, fez pior: veio a público afirmar que o decreto era constitucional.
Como ninguém reclamou, o bolsonarismo continuou avançando. Deputados bolsonaristas elegeram Daniel Silveira para nada menos do que cinco comissões na Câmara, incluindo a CCJ. Um tapa na cara do Supremo.
No mesmo dia, em um acintoso evento de desagravo a Silveira, Bolsonaro usou um amontoado de mentiras para atacar o TSE e as urnas eletrônicas, aventou usar as Forças Armadas para fiscalizar as eleições (o que configuraria golpe de Estado) e pôs sob suspeição não apenas a eleição para presidente, mas também as eleições para o Legislativo.
Lira e Pacheco finalmente despertaram de seu torpor cúmplice e correram a defender o processo eleitoral. Bolsonaro imediatamente recuou, tirou onda de bom moço e mentiu que “nunca quis peitar” o Supremo. Mas já tinha peitado, já tinha desmoralizado mais um pouco o processo eleitoral e avançado uma casa em seu caminho para melar o pleito de outubro.
Ganhou de novo.
Enquanto certos parlamentares sonolentos e cúmplices não acordarem, Bolsonaro vai continuar ganhando uma atrás da outra até outubro, quando o Brasil terá seu “momento capitólio”.
Hora de acordar, senhores parlamentares.