Hamas, Netanyahu, Bolsonaro: semelhanças e diferenças
A grande diferença entre Bolsonaro e o primeiro-ministro israelense não está neles mesmos, mas em seus eleitores

O Hamas é uma ditadura: tomou o poder em 2006 em Gaza pela via eleitoral e nunca mais promoveu eleições. É também um grupo terrorista, responsável pelo maior ataque terrorista que Israel já sofreu desde sua criação. Além de terrorista e antissemita, é altamente misógino e homofóbico.
O ato terrorista do dia 7 é de um tipo específico: o pogrom. O pogrom é o ato de agredir e matar indiscriminadamente civis judeus com o objetivo de deixar claro que eles não são bem-vindos e fazê-los ir embora. Evidentemente, não é realista supor que sete milhões de pessoas possam ir embora, mas a realidade que se dane.
É bom não confundir os terroristas do Hamas com a população civil de Gaza. São coisas bem diferentes.
O pogrom de 10 dias atrás foi especialmente espantoso porque Israel conta com o melhor serviço de inteligência e as Forças Armadas mais eficientes do mundo. Ele só foi possível porque o país vive um momento de particular fragilidade. Seu primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, é um populista de extrema direita, corrupto, que até antes do pogrom tinha como únicos objetivos dar um golpe de Estado e escapar da Justiça.
Netanyahu está promovendo um bombardeio brutal a Gaza, com inúmeras mortes de civis, e alertou a população para que abandone a cidade de Gaza, dado que a invasão é iminente. Não é realista supor que mais de um milhão de pessoas possa ir embora de um dia para o outro (até porque o governo israelense até agora não criou um corredor humanitário seguro para que se possa deixar o país), mas a realidade que se dane.
É bom não confundir Netanyahu com a população civil de Israel. São coisas bem diferentes.
As populações de Gaza e Israel também são diferentes entre si, mas têm uma semelhança suprema: são gente comum, que quer viver sua vida em paz.
Netanyahu e o Hamas também têm semelhanças: ambos são fundamentalistas, intolerantes, mistificadores e corruptos; demonizam o adversário; vêm a violência como solução; tomaram o poder pela via eleitoral e atentaram contra a democracia.
Todas essas semelhanças Netanyahu tem também com outros populistas de extrema direita que surgiram pelo mundo nos últimos anos, como Jair Bolsonaro, e há mais uma: ele sempre foi especialmente competente no uso das redes para manipular a opinião pública e se manter no poder.
Com Bolsonaro, Netanyahu tem em comum até “propostas” sem conexão com a realidade. Até há algum tempo, a “solução” de Bolsonaro para o tráfico de drogas era dar 24 horas para que os moradores honestos deixassem suas casas e depois “metralhar a favela”. (A realidade que se dane etc.)
A grande diferença entre Netanyahu e Bolsonaro não está neles mesmos, mas em seus eleitores. Os eleitores de Netanyahu parecem ter finalmente compreendido o mal que ele fez e ainda faz ao país. Os eleitores de Bolsonaro recusam-se a compreender o que ele é e fez — e continuam a defendê-lo.