As lições do golpe de Trump para o Brasil
Há muito a fazer para impedir o golpe anunciado por Bolsonaro para 2022
Esta semana, pela primeira vez na história, o presidente da primeira e maior democracia do mundo, os EUA, comandou um ataque ao Congresso americano. A tentativa de golpe de Donald Trump traz muitas indagações para o Brasil.
O primeiro em quem prestar atenção, claro, é Jair Bolsonaro. Como Trump, Bolsonaro é um presidente golpista, que ataca as instituições democráticas e que age de maneira irracional.
Qualquer pessoa razoável percebe o óbvio: a tentativa de golpe de Trump foi um desatino, o presidente americano deu com os burros n’água e vai pagar um preço alto. Mas Bolsonaro, como se sabe, não é uma pessoa razoável, não aprende lições. Sua interpretação foi oposta à das pessoas razoáveis: confiante de que vai triunfar onde o americano fracassou, anunciou que pretende criar uma situação “muito pior” se vier a perder em 2022.
Nada fará com que Bolsonaro deixe de ser golpista, de modo que é melhor observar as pessoas e entidades comprometidas não com ele, mas com a democracia brasileira.
O que farão nossos parlamentares? Permitirão que o Poder Legislativo esteja sob controle de Jair Bolsonaro durante a eleição de 2022 e na posse do próximo presidente? Essa decisão será tomada em poucas semanas.
O que farão os comandantes do Exército, general Edson Pujol; da Marinha, almirante Ilques Barbosa Junior; e da Aeronáutica, brigadeiro Antonio Carlos Moretti Bermudez; e os oficiais-generais dos respectivos Altos Comandos para neutralizar a influência nefasta — que prepara a quebra de hierarquia — de Jair Bolsonaro sobre nossas Forças Armadas?
O que farão o atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Luiz Roberto Barroso, e o próximo, ministro Edson Fachin, para garantir que a eleição e a posse ocorram sem problemas?
O que farão os excelentíssimos ministros do Supremo Tribunal Federal para garantir que não haverá risco para a democracia durante a eleição e a posse em 2022?
O que farão os governadores dos estados para neutralizar a influência tóxica de Bolsonaro, que estimula a sublevação — da qual já vimos um ensaio na greve da polícia no Maranhão — nas PMs? O que farão Pujol e os 14 generais de Exército do Alto Comando para ajudá-los?
O que fará o governador do Distrito Federal, o bolsonarista Ibaneis Rocha — que provavelmente estará buscando sua própria reeleição — para garantir que a eleição em 2022 correrá tranquilamente e que os apoiadores de Bolsonaro não atacarão o Congresso e/ou o Supremo (como já fizeram no ano passado)?
O que farão os administradores das redes sociais — em particular Mark Zuckerberg (WhatsApp e Facebook) e Jack Dorsey (Twitter) — para impedir que Bolsonaro continue a usar suas redes para disseminar mentiras e manipular seus apoiadores?
A democracia brasileira é bem mais frágil do que a americana e faltam apenas 21 meses para a próxima eleição. É bom essa turma começar a se mexer.