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Ricardo Rangel

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Abin: general Heleno na PF. O que ele dirá?

Na última vez em que esteve na Polícia Federal, o militar jurou que era mentira o que todo mundo sabia que era verdade

Por Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 8 Maio 2024, 16h27 - Publicado em 31 jan 2024, 12h29

O general Augusto Heleno foi intimado pela Polícia Federal a depor sobre o affair Abin.

O grande público soube da existência de Heleno de uma maneira meio que repentina, quando o general-de-exército começou a dar entrevistas em programas de televisão. Falava coisa com coisa, parecia razoável e tinha o prestígio de ter sido o primeiro comandante militar da missão da ONU no Haiti, cuja memória orgulhava o Brasil.

O primeiro sinal de alerta, no entanto, logo apareceu. Indagado sobre o que pensava sobre direitos humanos, respondeu que era a favor de “direitos humanos para humanos direitos”. Não esclareceu o que seriam “humanos direitos”, nem quem decide quais humanos são direitos ou não, nem que tratamento mereceriam os humanos não direitos.

Apesar das implicações desumanas, e até um tanto fascistas, da frase, insistiu no gracejo, transformando-o em uma espécie de bordão. Mesmo assim, sua associação a Bolsonaro foi vista com bons olhos, pois esperava-se que o general desse ao candidato detraqué um pouco de pé no chão.

Gradualmente, descobriu-se mais sobre Heleno. Havia sido discípulo e ajudante de ordens de Sylvio Frota, um general tão reacionário que tramou um golpe para derrubar Ernesto Geisel.

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A missão no Haiti fora acusada de cometer abusos e violência desproporcional contra a população civil. E Heleno perdera o comando militar depois de uma operação que matara dezenas de civis, inclusive mulheres e crianças, descrita como  um “massacre” (talvez os haitianos não fossem humanos direitos, afinal).

Feito ministro com a eleição de Bolsonaro, Heleno começou a subir o tom. Tornou-se o bolsonarista mais entusiasmado do ministério. Concluía suas frases com murros na mesa. Defendeu prisão perpétua, pena inexistente no Brasil, para presidentes desonestos (referia-se a Lula, bem entendido). Recebeu a proposta de um novo AI-5 com naturalidade. Fez diversas ameaças veladas de golpe — e, segundo Mauro Cid e a revista Piauí, participou de reuniões palacianas para discutir o assunto.

Foi Heleno quem montou a equipe do GSI que, no 8 de janeiro do ano passado, deveria ter defendido a República, mas, em boa medida, uniu-se à intentona bolsonarista. E era sob seu GSI que operava a Abin “particular” do presidente.

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Vamos ver o que Heleno terá a dizer à polícia sobre o descalabro que ocorreu no Brasil nos últimos cinco anos.

O histórico dos depoimentos do general não é bom. Na última vez em que esteve diante da Polícia Federal foi para prestar esclarecimentos sobre a pressão que Bolsonaro fizera sobre Sergio Moro para trocar o superintendente da PF no Rio de Janeiro. A pressão era indiscutível, registrada inclusive no vídeo da infame reunião em que o presidente ameaçou demitir seu ministro da Justiça.

Heleno declarou — sob juramento — que não era da Polícia Federal que Bolsonaro estava falando. E ficou por isso mesmo.

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Na época, no entanto, o presidente era Bolsonaro, e Bolsonaro tinha acabado de demitir o ministro da Justiça, Moro, e o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo.

Desta vez, a acolhida que Heleno receberá na PF deve ser um pouco diferente.

(Por Ricardo Rangel em 31/01/2024)

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