A irresponsabilidade incontornável
Seja qual for a interpretação sobre o veto, a conclusão sobre Bolsonaro é a mesma
Bolsonaro vetou o perdão de dívida das igrejas. Ótimo, fez a coisa certa.
Mas vetou parcialmente: manteve o perdão no que se refere à à multa sobre o não pagamento da contribuição previdenciária. E disse que só vetou porque foi obrigado pela causa da Lei de Responsabilidade Fiscal. Que poderia sofrer um processo de impeachment se não vetasse, que, se pudesse, não vetaria. Que é a favor de isenção total para as igrejas. E que, se fosse deputado, derrubaria seu próprio veto, já que os parlamentares não são sujeitos à LRF.
Há três interpretações possíveis para atitude tão contraditória.
Uma é supor que o presidente está sendo sincero. Nesse caso, fica claro que Bolsonaro não se sente obrigado, nem do ponto de vista ético, nem do ponto de vista administrativo, a se comportar de maneira sensata. Que, se tivesse certeza da impunidade, daria esse vergonhoso presente às igrejas, e o Brasil que se dane (vamos mudar o slogan para “Brasil acima de todos, menos das igrejas”). Ou seja, Bolsonaro é é um homem irresponsável.
Outra é supor que o presidente vetou porque quis, e mente ao dizer que vetou porque foi obrigado — aliás, o fato de Bolsonaro ser hoje alvo de mais de 50 pedidos de impeachment (isto é, mais um não faria grande diferença) fortalece essa hipótese. Nesse caso, Bolsonaro vetou porque sabia que era necessário vetar, mas não quer arcar com as consequências eleitorais de desagradar às igrejas evangélicas, e tenta empurrar a responsabilidade o Congresso. Ou seja, Bolsonaro é um homem irresponsável.
E há também a interpretação, estapafúrdia, de que Bolsonaro simplesmente não tem a menor ideia do que faz, e flutua, ao sabor da brisa, para lá e para cá. O que é, claro, a própria definição de irresponsabilidade.
Escolha a interpretação que quiser, a conclusão é sempre a mesma.