Voltei. E “Felicidade”.
Voltei.As viagens, adequada a geografia, sempre valem pelo crepúsculo. Em poesia, há um subgênero (quem é o do ramo sabe disso): o da poesia crepuscular, metáfora óbvia demais, mas sempre tocante. É possível que todo grande poeta tenha se dedicado ao cair da tarde. Editoras gastam dinheiro e papel com tanta bobagem. Ocupem algum letrado […]
As viagens, adequada a geografia, sempre valem pelo crepúsculo. Em poesia, há um subgênero (quem é o do ramo sabe disso): o da poesia crepuscular, metáfora óbvia demais, mas sempre tocante. É possível que todo grande poeta tenha se dedicado ao cair da tarde. Editoras gastam dinheiro e papel com tanta bobagem. Ocupem algum letrado da USP e da Unicamp (há poucos, mas ainda os há) com uma seleta de Poemas do Crepúsculo. E ainda é uma forma de exaltar a natureza, que foi privatizada pelo obscurantismo dos ecologistas. Também pessoas sentimentalmente alfabetizadas já se dedicaram ao assunto. Nem sempre estivemos submetidos à ditadura obscurantista do politicamente correto.
Vejam este, de Manuel Bandeira, que encerrou nosso período pré-Carnaval, que está em Ritmo Dissoluto:
FELICIDADE
A doce tarde morre. E tão mansa
Ela esmorece,
Tão lentamente no céu de prece,
Que assim parece, toda repouso,
Como um suspiro de extinto gozo
De uma profunda, longa esperança
Que, enfim cumprida, morre, descansa…
E enquanto a mansa tarde agoniza,
Por entre a névoa fria do mar
Toda minhalma foge na brisa:
Tenho vontade de me matar!
Oh, ter vontade de se matar…
Bem sei é cousa que não se diz,
Que mais a vida me pode dar?
Sou tão feliz!
— Vem, noite mansa…