Vivam FHC e as privatizações! E abaixo o debate vagabundo!
Os bocas-de-trapo do petismo dizem gostar quando FHC entra no debate. Eu também. Eles dizem gostar porque o tucano tiraria votos de Alckmin. Eu gosto porque tenho apreço pela inteligência e pela política. Se um petista diz que o ex-presidente ajuda o PT, então deve ser o contrário. Uma boa maneira de você estar perto […]
FHC fez o que, até agora, o comando da campanha de Alckmin e seus “especialistas” amestrados — amestrados, sem querer, pelo PT — não tiveram coragem de fazer: defender as privatizações e acusar a demagogia de Lula. Se vencer, infelizmente, o presidenciável tucano não vai vender coisa nenhuma, embora devesse.
O ex-presidente falou e lembrou a coisa certa: o PT acusa os adversários de querer privatizar a Petrobras e o Banco do Brasil? Que o PSDB parta para o contra-ataque. E a melhor maneira de fazê-lo não é assinando documentos para pacificar o inexistente PDT; a melhor maneira de fazê-lo é demonstrando que as estatais, sob a gestão petista, se transformaram em aparelhos partidários, em covil de pilantras. Ou, nas palavras do próprio FHC: “A Petrobras tem que ser outra coisa. Uma empresa pública, e não o que está sendo, usada para fins políticos. O Banco do Brasil tem de ser uma empresa pública, não para ser usado no Valerioduto. Você tem aí empresas que devem ser do governo, mas não devem ser usadas por um partido. E empresas que não têm sentido estarem no governo, que devem ser privatizadas”. As declarações foram feitas à rádio CBN.
É claro que a zonzeira reinante na imprensa ajuda os petistas. Leiam o seguinte trecho, em itálico, que está na Folha On Line, com atenção especial ao que está em vermelho: “O líder tucano afirmou que é demagogia do PT afirmar que um eventual governo de Geraldo Alckmin venderia o controle da empresa. FHC afirmou que “ninguém vai privatizar” a gigante estatal do petróleo, mas em seguida deixou escapar a frase ‘não sou contra a privatização da Petrobras’”.
“Deixou escapar”??? Quer dizer que alguém só pode se dizer “não contrário” — o que não quer dizer exatamente “favorável” — à privatização da Petrobras num ato falho, num lapso, assim como quando um bandido confessa um crime sem querer ou quando a nossa linguagem trai uma vontade que estamos tentando esconder? A Petrobras e o Banco do Brasil se transformaram, agora, num dado da nossa psique, da nossa conformação mental? Ah… Mais respeito, intelectual ao menos, com FHC! Não sou seu amigo, não, mas já estive com ele algumas vezes. Não é do tipo que “deixa escapar” frases. Expôs dois dados da realidade: 1) os tucanos não vão privatizar a Petrobras se Alckmin vencer; 2) mesmo não privatizando, ele não é contrário ao processo.
O petismo só prospera onde a linguagem assume uma dimensão pobremente mágica; onde o fetiche substitui a razão. Ok. Alckmin já expressou seu compromisso. Agora cumpre demonstrar para que finalidade os petistas usaram, até agora, a Petrobras, o Banco do Brasil e os Correios, onde tudo começou. No Roda Viva, Lula defendeu o antigo modelo da Telebrás. Hoje era o dia de o horário eleitoral de Alckmin lembrar como era a empresa nos tempos em que os petistas saíam por aí chutando o traseiro — literalmente — de investidores que iriam participar de leilões públicos. Seria o caso de demonstrar que a venda das ações da Telebrás se fizeram à luz do dia. Já os canalhas que usaram as estatais para comprar consciências o fizeram, claro pela porta dos fundos.
Mas, para tanto, é preciso ter tutano e saber fazer política. Um candidato não pode ser refém do temor e do marketing — especialmente do marketing incompetente. Tem de partir para o debate. Já escrevi isso aqui umas 500 vezes. É preciso deixar claro que, se vitorioso, Alckimin vai “desprivatizar” a Petrobras e o Banco do Brasil, que foram ocupadas pelo PT, assim como o MST ocupa terras que não pertencem. Ah, que falta nos faz a política, Santo Deus! Que falta nos faz a política!